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Cientistas da UFRJ veem com preocupação continuidade da presença de geosmina na água

Pesquisadores também destacam que lantânio não é metal pesado

O grupo de trabalho designado pela Reitoria da UFRJ em 2020 para analisar a crise hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro emitiu nota no último domingo, 11/4, em que demonstra preocupação com a continuidade da presença de geosmina, ou MIB (2-metilisoborneol), na água bruta do principal manancial de abastecimento da região e a percepção recorrente do sabor e odor na água distribuída. (Leia a nota na íntegra)

O comitê, coordenado pela professora Sandra Azevedo, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), reitera as recomendações já feitas pela UFRJ:

  • Modificar o sistema de governança de recursos hídricos

Em primeiro lugar, é necessário que haja transparência imediata da real situação da qualidade da água distribuída para consumo pela população do Rio de Janeiro. Os setores responsáveis pelo controle e vigilância da qualidade da água devem atuar de forma coordenada, cooperativa e rápida para garantir água segura e de qualidade, conforme determina a legislação. Há também uma necessidade urgente de profundas modificações no sistema de governança de recursos hídricos de forma interdisciplinar e sistêmica. Essa modernização deve garantir condições para lidar com situações de emergência, com a vulnerabilidade crescente das populações humanas e dos ecossistemas. É necessário também a elaboração de planos de contingência para acompanhamento de crises dessa natureza e de suas consequências sociais e econômicas.

  • Divulgar as informações e promover ações de conscientização social da amplitude da crise

Os dados do monitoramento da qualidade da água devem ser disponibilizados para a população, como previsto em lei, e em eventos como este precisam ser liberados para a sociedade de forma dinâmica. É importante e necessário reconhecer publicamente e divulgar as causas de problemas no abastecimento público. A situação crítica afeta a saúde pública, causando preocupação e instabilidade social, com episódios recorrentes de manifestações em populações mais vulneráveis.

  • Investir em medidas de longo prazo

Enquanto a recuperação adequada dos recursos hídricos utilizados para abastecimento público não for feita, a perspectiva de recorrência de crises semelhantes num futuro próximo é bastante provável. Portanto, os investimentos necessários para essa recuperação não podem mais ser adiados e devem ser considerados prioritários e estratégicos. Projetos de saneamento básico e tratamento de esgotos são fundamentais e precisam ser implantados, sendo necessário também mensurar a eficiência desses processos. Esse problema crônico tem reflexos altamente negativos na economia e na saúde pública, e está diretamente relacionado com a perda da qualidade da água de nossos mananciais, aumentando o risco e a vulnerabilidade das populações humanas. Em caráter emergencial, outras alternativas de tratamento da água também devem ser consideradas, propondo-se a utilização de medidas corretivas, como oxidação avançada ou adsorção com carvão ativado. Isso tem sido anunciado pela Cedae, entretanto, destaca-se a urgência na implementação. Para uma solução definitiva, o sistema de tratamento de água deve ser modernizado a longo prazo, incluindo tecnologias mais avançadas. Todas as medidas apontadas como necessárias para garantir a segurança hídrica da população da Região Metropolitana do Rio não implicam desenvolvimento de novas tecnologias e já são bastante conhecidas pelos diferentes setores envolvidos na governança de recursos hídricos e abastecimento público. No entanto, os docentes responsáveis pela elaboração dessas recomendações se colocam à disposição para esclarecimentos, aprofundamento das informações apresentadas e auxílio na elaboração das ações em todos os níveis.

Lantânio não é metal pesado

Os cientistas também alertam que, diferentemente do que tem sido divulgado, o lantânio, novo poluente de caráter tóxico que teria sido identificado nas águas do manancial, não se constitui um metal pesado, mas sim um metal da classe de terras raras e elemento químico de baixa toxicidade. O Conselho Regional de Química (CRQ) já emitiu nota sobre o tema.

Os pesquisadores da UFRJ afirmam, no entanto, que não têm conhecimento dos laudos técnicos que tenham atestado a presença de metais pesados ou lantânio na água tratada distribuída para a população.

“A Reitoria salienta que os posicionamentos institucionais oficiais relacionados à crise da água no estado do Rio de Janeiro são emitidos somente por este grupo de trabalho, por ela designado”, destaca também a nota, que pode ser acessada na íntegra aqui.