Categorias
Memória Sociedade

Editora UFRJ promove live sobre a ciência no país

O debate teve como tema a obra “Ciência e Liberdade – Escritos sobre Ciência e Educação no Brasil”

Por Ana Paula Jaume*

A Editora UFRJ promoveu um debate em formato de live, mediado pelo diretor Marcelo Jacques, na quinta-feira (21/5), sobre a ciência no Brasil. A conversa, transmitida pelo Facebook da Editora, baseou-se em textos contidos no livro Ciência e Liberdade – Escritos sobre Ciência e Educação no Brasil (Editora UFRJ, 1998), do físico brasileiro José Leite Lopes, e contou com convidados ligados à área. O público pôde interagir enviando perguntas aos debatedores.

Estiveram presentes Angela Leite Lopes, professora da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ; Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física (IF) da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); José Sérgio Leite Lopes, professor titular do Museu Nacional e coordenador do Programa de Memória dos Movimentos Sociais (Memov) do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ; e Ricardo Galvão, professor do Instituto de Física da USP e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O evento é parte do projeto de comemoração do centenário da UFRJ, 100 Anos, 100 Livros, que tem por objetivo promover debates sobre livros da Editora e temas que permeiam a sociedade. O projeto também prevê a disponibilização gratuita de cem livros para download. A transmissão teve apoio do FCC e da Diretoria de Acessibilidade da Reitoria da UFRJ (Dirac), que cedeu tradutores de Libras para interpretação do debate ao vivo.

Com colaboração do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), um dos últimos livros de José Leite Lopes conta, ao longo de 22 capítulos, a luta do autor pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Isso em um cenário em que se discute o valor da universidade e da contribuição científica no país. Além disso, foi destacada a importância de sua obra para a história da universidade.

Durante cerca de uma hora e meia, os debatedores relembraram momentos que compartilharam com o autor, que nasceu durante a pandemia de gripe espanhola e, muito pequeno, perdeu a mãe para a doença. Os convidados ainda ressaltaram a intensa atuação de Lopes como cidadão brasileiro e difusor da ideia de alinhar a produção de ciência com o ensino básico.

No ano em que a UFRJ completa seu primeiro centenário, o livro é lançado na versão digital de acesso gratuito universal. Os textos de Ciência e Liberdade – Escritos sobre Ciência e Educação no Brasil (Editora UFRJ, 1998) abrangem um período de 50 anos, de 1948 a 1998.

Para José Sérgio Leite Lopes, filho do autor, a obra “marca a liberdade do acesso gratuito ao livro” e simboliza a volta da democracia. Ele pontuou, ainda, que os capítulos do livro trazem o valor da ciência paralelamente ao negacionismo e à falta de verbas.

José Leite Lopes foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) durante a ditadura militar, em agosto de 1964. Três meses depois, seguiu para a França, a convite da Universidade de Paris, e permaneceu lá até 1967. De volta ao Brasil, tornou-se professor da UFRJ e como o primeiro diretor do Instituto de Física (IF).

Em 1969, entrou para a lista de punidos pelo AI-5 e fez parte dos professores aposentados compulsoriamente. Por esse motivo, precisou deixar o país, momento que coincidiu com um convite que havia recebido da Universidade de Pittsburgh (EUA), e só retornou em 1979.

Professora da EBA e filha de José Leite Lopes, Angela Leite Lopes emocionou-se ao falar sobre o lado artístico do pai, amante de poesia e pintura. Ela relembrou um episódio de sua infância em Pittsburgh. O grupo Sérgio Mendes & Brasil 66 havia feito um show na cidade, e Angela convenceu o pai a levá-la à apresentação. Ao final do concerto, durante a música Viola Enluarada, de Milton Nascimento e Marcos Valle, José Leite Lopes externou o grito de “Liberdade para o Brasil!”

Ildeu de Castro Moreira, organizador do livro, comentou o processo de criação da coletânea e mencionou que José Leite Lopes influenciou a sua decisão de cursar Física. Moreira destacou o primeiro discurso do autor como professor de Física Teórica da UFRJ. Nesse dia, o então docente abordou questões como a importância da pesquisa na Universidade, o papel da instituição na formação de profissionais qualificados e a preocupação da ciência com o desenvolvimento.

Ricardo Galvão, do Instituto de Física da USP, enfatizou a amizade que construiu com José. Além disso, Galvão revelou que sua admiração por ele cresceu quando o ouviu dizer que “a ciência não é um conjunto passivo de conhecimento. A ciência é um processo global bastante complexo, que envolve escolha de temas e suas aplicações”. Ricardo Galvão também declarou aos jovens “como é importante ter uma pessoa que não pense em caixinhas”.

No final da live, Marcelo Jacques afirmou que a ideia é que encontros como esse ocorram mensalmente e que no dia 25/6 possivelmente ocorrerá a próxima reunião acerca de um novo livro.

*Extensionista, sob supervisão da Assessoria de Imprensa/Coordcom