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Evento promove o acolhimento da comunidade LGBTI no SUS

Iniciativa do Hesfa busca preparar profissionais para lidar com as vulnerabilidades do grupo durante o acompanhamento médico

O Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) do Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis (Hesfa) realizou, em 28/1, o I Fórum Científico Hesfa/UFRJ – 2020, com o tema “Acolhimento e vulnerabilidade da população LGBTI”. O evento abordou as especificidades do atendimento a esse grupo no Sistema Único de Saúde (SUS).

Felipe Carvalho, presidente do grupo Diversidade, de Niterói, e vice-presidente do Conselho Estadual LGBTI, falou sobre as dificuldades encontradas pela comunidade LGBTI no acesso à saúde, que passam tanto por problemas de como os sistemas são construídos até a falta de conscientização dos profissionais da área. A sigla procura visibilizar lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo.

Carvalho afirmou que transexuais são os mais afetados no que tange à violência e ao acesso a tratamento médico. “O Brasil é o país que mais mata transexuais: 40% dos assassinatos no mundo foram cometidos aqui”, contou, completando que a idade média com que essas pessoas são expulsas de casa é de 13 anos, na maioria das vezes sendo obrigadas a se prostituir.

A falta de conhecimento e o preconceito ainda são grandes, por isso o palestrante abordou as diferenças entre orientação sexual, que envolve atração e desejo sexual, e identidade de gênero, que diz respeito a como a pessoa se sente e com qual gênero ela se identifica. “Gênero é uma construção social, criamos caixinhas em que cada um busca se adequar”, explicou.

Um dos maiores problemas no acesso de pessoas trans à saúde pública é a maneira como o sistema é construído sob o binarismo de gênero, o que demonstra que as políticas públicas são muito falhas. Hoje o indivíduo pode solicitar a inclusão do nome social e a mudança do gênero nos registros do SUS, mas ao realizar essa atualização outras questões são geradas. Uma pessoa trans e que não passou pela cirurgia de transição ainda pode precisar de tratamentos que envolvam o seu sexo biológico. Ou, ainda, diferentes tipos de orientações sexuais que envolvam certas distinções nos protocolos a serem seguidos. Carvalho cita, por exemplo, o caso de uma mulher trans que precisaria de um exame de próstata, para o qual o sistema defasado não permitiu acesso já que esse procedimento não consta como disponível para o gênero informado. “Coisas como essa afastam as pessoas LGBTIs do SUS, causando, muitas vezes, mortes e o sofrimento dessa população. Precisamos humanizar o atendimento, para que sejam mais específicos e levem em consideração as identidades de gênero e orientações sexuais das pessoas”, conclui.