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Memória

Hospital Escola São Francisco de Assis realiza debate sobre suicídio

No dia 10, conversa será no CCS, como parte da campanha Setembro Amarelo


Fotos: Artur Moês (Coordcom/UFRJ)

Cerca de 800 mil casos de suicídio são notificados em todo o mundo, a cada ano. Isso significa uma morte a cada 40 segundos. Quase 80% desses registros são oriundos de países pobres. No Brasil, é possível que 32 pessoas se matem todos os dias. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS), que reconhece a possibilidade de subnotificação. A estimativa é que, a cada caso confirmado, 20 tentativas tenham sido feitas. Voltando aos dados absolutos, é possível deduzir que há 16 milhões de tentativas de suicídio por ano. Trata-se de um problema de saúde pública cujo debate deve ser ampliado, alerta a OMS.

Pensando nisso, o Hospital Escola São Francisco de Assis da UFRJ (Hesfa) realizou, na quarta-feira (28/8), uma conversa sobre o tema. O jornalista André Trigueiro, autor do livro Viver É a Melhor Opção: a Prevenção do Suicídio no Brasil e no Mundo (São Paulo: Correio Fraterno, 2015), ministrou palestra. Em sua fala, ele destacou a importância do diálogo, do registro e da investigação a fim de evitarem-se novas tentativas de morte. “A rotina tem de ser trabalhada no rastro da precisão das causas”, anunciou aos profissionais de saúde presentes.

“Como compreender o fenômeno do suicídio?”, perguntou o jornalista. A resposta não é simples, nem única; passa por questões culturais, religiosas, existenciais, filosóficas. Porém, para Trigueiro, o primeiro passo é desfazer o sentimento de que sobre o assunto não se fala. “É preciso quebrar esse tabu, fazer a informação circular, encarar o problema de frente, conversar. É falsa a tese de que a pessoa que quer se matar está com ideia fixa”, defendeu.

O jornalista ressaltou a relevância de uma postura de escuta e empatia para quem trabalha de forma a prevenir o problema. Segundo ele, é possível notar quando um “olhar está fosco”, quando alguém precisa de atenção, quando se deve acolher, sem julgar, e quando a pessoa já se encontra com a saúde mental abalada, a ponto de não desejar seguir. “Existe diferença entre estado depressivo e depressão, tristeza e tristeza persistente. É preciso estar atento a todos os sinais. Os profissionais de saúde têm papel decisivo nisso”, afirmou.


Convidado do Hesfa, André Trigueiro pesquisa o tema há 20 anos

Ele destacou também a importância de encarar o suicídio como uma questão coletiva. “Quando se fala que é um problema de saúde pública, não se está considerando somente o risco de suicídio. Cometido o suicídio, as pessoas próximas também precisam de assistência”, observou. De acordo com a OMS, cerca de seis pessoas que sofrem com a perda de alguém que se matou também entram em estado de adoecimento mental. “Procurar ajuda significa procurar um psiquiatra ou um psicólogo. Mas todos devem estar atentos, todos podem acolher e conversar”, considerou.

Não é possível listar precisamente o que faz com que o suicídio ocorra, mas Trigueiro falou em “fatores de risco”, frisando o consumo exacerbado de drogas e medicamentos – muitas vezes, antidepressivos e calmantes ingeridos sem acompanhamento médico. “Atalhos para resolver problemas podem desencadear novos problemas”, alertou.

Trigueiro fez uma crítica ao que chamou de “ditadura da eterna alegria”, modo de vida voltado ao espetáculo e à performance de um estado de ânimo não necessariamente autêntico. “As pessoas gostam sempre de demonstrar que estão de bem com a vida, vejam o fenômeno da selfie nas mídias sociais”. A seu ver, tal exigência social não colabora com a saúde mental das pessoas, estimulando a competição e produzindo falsos estímulos. “Essa cultura hedonista, egoísta, orgulhosa, individualista e consumista gera inúmeros impactos e reveses na resiliência das pessoas”, definiu.

Em tom motivacional, Trigueiro finalizou a palestra usando a imagem de um bambu: “Em uma ventania, as árvores rígidas caem, o bambu se movimenta”. Para viver bem, segundo sua visão de mundo, é preciso ser flexível, estimular convivências de afeto, alimentar o sentimento de que se é útil ao outro e ao mundo, cuidar de si mesmo.

Cerca de 170 pessoas acompanharam a discussão presencialmente, no auditório do Hospital, e a distância, na Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN). Pela internet, a partir de uma transmissão simultânea, mais de 500 pessoas foram alcançadas e 67 deixaram comentários nas mídias sociais. Ao final da fala de Trigueiro, foram realizadas quatro rodadas de perguntas.


Fonte: LVBA Comunicação

Setembro Amarelo

Desde 2015, o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) realizam no Brasil a campanha Setembro Amarelo, fazendo referência ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, 10/9.

De acordo com o site oficial da campanha, “a ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções, garantindo mais visibilidade à causa” e estimulando a promoção de eventos e rodas de conversa sobre o tema. Assim como outras instituições públicas, a UFRJ adere à campanha. No dia 10/9, o Setor de Humanização e Acolhimento do Centro de Ciências da Saúde (CCS) realizará o evento UFRJ pela Vida, com quatro palestras diferentes sobre o assunto. Para mais informações, clique aqui.