Estudo encomendado pelo Ministério da Saúde é inédito no Brasil e servirá para formulação de políticas públicas em nutrição infantil
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) iniciou em 18/3 o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), iniciativa pioneira no país. A pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde vai analisar crianças de até cinco anos de idade e tem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Coordenado pela UFRJ, o Enani avaliará crianças quanto ao estado nutricional e no que se refere a práticas de aleitamento materno e de consumo alimentar. A fim de conferir mais relevância à pesquisa, o estudo também revelará se os pequenos têm deficiência de micronutrientes (hemoglobina, folato, zinco, selênio, ferritina, além das vitaminas A, D, E, B1, B6 e B12), cuja importância para o organismo é decisiva, já que cada vitamina e mineral proporciona uma ação específica que auxilia no perfeito funcionamento do corpo.
Em consórcio com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), espera-se que 15 mil famílias sejam visitadas em todas as regiões do Brasil, incluindo as zonas rural e urbana, para a produção da investigação científica . O trabalho acontece em duas etapas: na primeira visita, é realizada a entrevista; no segundo dia, a coleta de sangue, feita por um laboratório especializado. Ao final, as famílias receberão um relatório com resultados sobre os principais problemas nutricionais identificados. Os pesquisadores estarão identificados com a camisa do Enani, que tem o logotipo do Governo Federal e do CNPq. Para dar ainda mais segurança ao processo, o Enani disponibilizou no site da pesquisa o nome e a foto de cada entrevistador de campo, além de contar com um telefone gratuito para tirar dúvidas: 0800 8080 990.
Estudo será base para formulação de políticas para alimentação infantil
Para Gilberto Kac, coordenador nacional do Enani e professor titular do Instituto de Nutrição da UFRJ, a pesquisa é estratégica para o Brasil. “O estudo permitirá que o Ministério da Saúde faça formulação de políticas públicas baseadas em evidências. A pesquisa vai suprir uma lacuna de ausência de dados. Hoje, temos dados pontuais sobre a deficiência de vitamina A e sobre a anemia, mas faltam dados sobre uma série de outros marcadores importantes, como as vitaminas do complexo B e os minerais, como o zinco e selênio”, afirma.
Em um cenário em que 20% dos brasileiros são obesos e mais da metade da população está acima do peso, a pesquisa também ajudará a descortinar desafios anunciados. “Além de atualizar os dados sobre o estado nutricional infantil, vamos saber o quanto que temos de nos preocupar com o crescimento do sobrepeso e a obesidade em crianças menores de 5 anos e saber se a desnutrição está efetivamente diminuindo”, explica Kac.
Pesquisa é baseada em tripé de eixos
O Enani é configurado em três linhas centrais: aleitamento materno e consumo alimentar, antropometria e, por fim, avaliação bioquímica do estado nutricional.
No primeiro eixo, serão avaliados todos os alimentos e bebidas que a criança ingeriu no dia anterior à entrevista, desde o momento em que acordou até a hora em que foi dormir. Detalhes como o tipo de preparo, os ingredientes utilizados, o local e a hora de consumo e as quantidades são também registrados. Assim, será possível estimar a contribuição de alimentos ultraprocessados no consumo calórico diário total. Será possível, ainda, demonstrar práticas de alimentação complementar e identificar os padrões alimentares.
A segunda linha de atuação vai avaliar as medidas de peso corporal e de estatura, que são aferidas nas crianças e nas mães biológicas. Além dessas mensurações, serão considerados o peso das crianças no nascimento e o peso da mãe nos momentos pré-gestacional e pós-parto. Com essas informações, será possível calcular o estado nutricional materno pré-gestacional. Possíveis déficits na estatura e no peso também são alvo deste eixo de atuação.
Já o terceiro integrante do tripé da pesquisa coletará sangue no domicílio da criança em data previamente agendada. A atividade será feita por profissionais qualificados com experiência em coleta de sangue infantil. Entre os objetivos estão estimar anemia e deficiências de micronutrientes e correlacionar essas deficiências com a alimentação e a antropometria. Além disso, parte do sangue coletado será armazenada em um biorrepositório para análises futuras que possibilitem uma compreensão melhor do estado nutricional das crianças participantes do estudo.
UFRJ na liderança
Com a complexidade e seriedade do estudo, que, além de ser inédito, é liderado pela maior universidade federal do país, Kac acredita que a pesquisa põe a Universidade em evidência. “Para a UFRJ, é uma grande honra estar coordenando o projeto, porque, além da visibilidade, nós estamos liderando um projeto que tem uma envergadura espetacular e potencial modificador para resolução de problemas nutricionais infantis”, conclui.
Conheça mais a pesquisa: https://enani.nutricao.ufrj.br.