Categorias
Memória

Entrevista com Oscar Mattos, candidato à Reitoria da UFRJ

Professor da Coppe e da Poli responde ao segundo bloco de questões realizadas pela Coordcom


Oscar Mattos Imagem: Ana Coutinho – Coordcom/UFRJ

Oscar Mattos, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) e da Escola Politécnica (Poli), é o candidato à Reitoria, para a próxima gestão, pela chapa 40: “Unidade e diversidade pela universidade pública e gratuita.” Ele tem como vice a professora Maria Fernanda Quintela, do Instituto de Biologia (IB).

Mattos é graduado e mestre pela UFRJ, doutor por uma universidade francesa e pós-doutor também pela UFRJ. Durante sua trajetória na instituição, foi também coordenador de cursos do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe).

Confira a seguir a segunda parte da entrevista que o candidato concedeu para o Portal da UFRJ:

Gestão patrimonial – A UFRJ firmou parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estudo de ativos imobiliários sem uso ou subutilizados. Quais são as suas propostas para os mecanismos de arrecadação própria e gestão desses ativos?

As linhas de trabalho são precisas. Levar adiante o Projeto de Valorização de Ativos do BNDES para assegurar contrapartidas na assistência estudantil e na infraestrutura da instituição (prédios não concluídos, espaço cultural da UFRJ, novos laboratórios “multiusuários” no CCS [Centro de Ciências da Saúde] e novas edificações no campus da Praia Vermelha, abrangendo, também, a área da saúde). Esse projeto é um modelo para as demais Ifes! Na modelagem do projeto teremos assegurada a manutenção predial pelo período de vigência da cessão das edificações construídas. Tudo isso como política institucional da UFRJ. É importante concluir a revisão dos valores e a pertinência de todas as cessões de áreas, objetivando elevar a arrecadação e garantir segurança jurídica. A gestão do patrimônio, como a experiência com o BNDES tem demonstrado, requer a incorporação do conhecimento da UFRJ, como o da Coppead [Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração], IE [Instituto de Economia], Poli [Escola Politécnica], PU [Prefeitura Universitária], ETU [Escritório Técnico da Universidade], PR-3 [Pró-Reitoria de Planejamento e Finanças]/PR-6 [Pró-Reitoria de Gestão e Governança], Procuradoria, entre outros. Essa é a nossa diferença!                                                                                                            

Política de pessoal – O corpo de servidores técnico-administrativos da UFRJ conta com cerca de 9.300 pessoas, mas 22% já apresentam condições de se aposentar. Dos 4.300 docentes, 15% também estão nessa condição. Esses indicadores são compatíveis com as necessidades da instituição ou há um déficit de pessoal a ser enfrentado?

A perspectiva é de maiores dificuldades com a desastrosa Reforma da Previdência. Lutaremos pela reposição de vagas e pela alocação de pessoal em áreas do conhecimento ou administrativas estratégicas. As aposentadorias provocam um desencontro geracional. Muitos técnicos-administrativos, por terem ingressado em carreiras extintas, não terão o código de vaga reposto. A UFRJ já possui déficit de servidores. O crescimento do número de novos estudantes (60%) não se repetiu nos docentes (10%) e técnicos-administrativos (7%). O ministro Guedes tem reiterado que irá bloquear os concursos. Seguiremos aperfeiçoando a modelagem necessária para dimensionar a necessidade de pessoal. A Cotav [Comissão Temporária de Alocação de Vagas] é uma importante conquista a ser ampliada para os técnicos-administrativos. Investiremos na reorganização dos processos de trabalho e na reflexão coletiva sobre a estrutura administrativa. Atuar na Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior] será crucial na construção de políticas de reposição de pessoal.

Política de pessoal – De que maneira a sua gestão pretende atuar no engajamento dos trabalhadores da ativa, criando oportunidades de capacitação, integração e melhores condições de trabalho?

O engajamento depende da valorização dos servidores e do reconhecimento do papel intelectual dos mesmos. A melhor motivação para um servidor vem da demonstração de que todos podem ser dirigentes. Nunca houve tantos técnicos-administrativos na administração superior. Isso requer formação permanente. Com a PR-4 [Pró-Reitoria de Pessoal], PR-2 [Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa] e PR-3, consolidaremos e ampliaremos o Plano de Qualificação Institucional (PQI), que possibilita vagas de mestrado e doutorado para servidores nos programas da UFRJ. Trabalharemos uma política de capacitação induzida, que parta do diagnóstico das necessidades da Universidade, articulado às ações existentes, buscando o desenvolvimento institucional que mire o “fazer” dos técnicos-administrativos em educação. Fortaleceremos o modelo de avaliação de desempenho que começa a ser implantado.

Museu Nacional – Quais são as propostas da sua gestão para dar prosseguimento à reconstrução do Museu Nacional (MN)?

A reconstrução do MN é um compromisso inquebrantável da UFRJ: reconstruir a edificação, ampliar e requalificar os espaços de pesquisas de referência ali desenvolvidos são tarefas urgentes. Em conjunto com a direção e a comunidade do MN, concluiremos o projeto executivo em parceria com a Unesco. O MEC alocou R$ 5 milhões para isso.  Logo após o terrível dia 2/9, o MEC autorizou a liberação de R$ 10 milhões, que foram utilizados basicamente para um reforço estrutural de áreas vulneráveis, permitindo avançar no resgate de acervos. Aproveitamos para sugerir que todos conheçam a exposição do Centro Cultural Banco do Brasil, é emocionante! Nossa política é convergente com os esforços em curso para melhoria da infraestrutura de pesquisa (CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], Capes[Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], Faperj [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), e daremos forte continuidade ao projeto de reconstrução do Palácio e de construção de anexos, possibilitado pela Emenda Parlamentar de R$ 55 milhões e pelos R$ 20 milhões do BNDES. O sucesso nas licitações assegurará novas emendas, recursos e acervos.

Orçamento – Desde 2015, a UFRJ atravessa reduções orçamentárias e conta com uma previsão de déficit de R$ 171 milhões para 2019. De que forma sua gestão atuará para equilibrar o orçamento da UFRJ?

Os cortes retiraram da UFRJ cerca de R$ 70 milhões (2014), R$ 56 milhões (2015), R$ 37 milhões (2016), R$ 12 milhões (2017). Em valores constantes, perdemos R$ 200 milhões/ano. O discurso neoliberal de que o problema da UFRJ é de gestão oculta as perdas orçamentárias, um erro político. Temos compromisso com o equilíbrio orçamentário da UFRJ. Nossa meta imediata (2019/2020) é recompor o orçamento da UFRJ aos patamares dos valores médios e corrigidos praticados entre 2014 e 2016 (R$ 560 milhões). Existem tratativas nesse sentido com a bancada do Rio. Em 2015, a LOA alocou R$ 55 milhões para investimentos. Atualmente reduzidos a R$ 10 milhões por ano. Com a recomposição orçamentária pretendemos concluir construções que foram iniciadas e que não forem contempladas pelo projeto do BNDES, além de investir em assistência estudantil, tecnologia e inovação, infraestrutura e gestão de risco. Elevar a receita própria e garantir a sua liberação é crucial.

Complexo Hospitalar – Quais são as suas propostas para o Complexo Hospitalar (CH) da UFRJ? E qual é a sua avaliação sobre a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)?

A concepção do Complexo Hospitalar é brilhante. Em estreita conexão com nossas unidades hospitalares, trabalharemos a partir de dois eixos: 1) o planejamento integrado da contratualização, compras, laboratórios, TI, dimensionamento e da divisão das atividades assistenciais; 2) a integração acadêmico-assistencial com as unidades  acadêmicas que atuam na formação na área de saúde e afins. Poderemos dispor de cerca de mil leitos para que nossos estudantes possam vivenciar o ambiente da clínica. A pesquisa translacional irá avançar imensamente. Quanto à Ebserh, nenhum debate pode ser interditado. Mas não concordamos com a adesão, isso precisa ficar claro. Discordamos de um debate que ignora a conjuntura econômico-política. Não queremos deslocar nossos servidores para uma empresa de direito privado e de futuro incerto. Discordamos da prerrogativa da empresa de nomear os dirigentes dos hospitais e dos serviços. Consideramos um grave erro paralisar a UFRJ com essa questão. A autonomia é um valor.

Campi – Qual é a sua proposta para a gestão dos campi da UFRJ fora do município do Rio, bem como para as unidades isoladas da cidade?

A interiorização da UFRJ é uma iniciativa importantíssima e inovadora realizada em parceria com cada prefeitura. O campus de Macaé foi criado há 10 anos e o  de Duque de Caxias foi transformado em campus, no final de 2018, com a sua transferência recente para Santa Cruz da Serra. Essa fase de implantação apresenta seus próprios desafios, que incluem desenvolver o conceito de campus (dimensões acadêmicas, administrativas, orçamentárias, assistência estudantil) e, emergencialmente, a construção de laboratórios novos para os docentes e de espaços de trabalho para servidores técnico-administrativos. A institucionalização de ambos os campi é um objetivo acadêmico e institucional a ser construído com nossa comunidade, o que permitirá integrá-los ainda melhor nas atividades conjuntas de ensino, pesquisa e extensão.

Educação básica – Quais são os seus principais planos de governo para a Escola de Educação Infantil (EEI) e o Colégio de Aplicação (CAp)? Qual é a sua avaliação sobre o Complexo de Formação de Professores (CFP)?

O Complexo de Formação de Professores foi uma iniciativa espetacular iniciada na gestão do professor Roberto Leher e que pretendemos continuar e aprimorar. A graduação, através das nossas licenciaturas, bem como a extensão e o CAp foram inicialmente incorporados à iniciativa. Agora está em curso uma maior aproximação com os nossos cursos de pós-graduação em ensino, que em muito vão enriquecer nosso complexo. Cabe a nós apoiá-lo e fazê-lo funcionar, consolidando e ampliando as parcerias. O CAp e a EEI são espaços de produção de conhecimento original sobre a educação básica, são referências que orgulham a educação pública e que, por isso, compõem o fulcro da formação docente no âmbito do complexo. 

Arte e cultura – De que forma prática sua gestão pretende lidar com a difusão da arte e da cultura na UFRJ?

A universidade é uma instituição de cultura: viva, ampla, capaz de desenvolver a imaginação criadora e de colocar em circulação novas formas de sentir e pensar o mundo. E é a área que menos recebe aportes públicos. A Reitoria tem de ser proativa, corrigir distorções, apoiando ativamente os cursos e áreas, inclusive na infraestrutura. A construção da área de dança, resolver os problemas de espaço e manutenção da Música e o galpão das artes da EBA [Escola de Belas Artes] exemplificam os desafios. Uma perspectiva mais ampla nos leva aos prédios tombados e ao patrimônio dos museus, documentos e coleções. Com relação ao espaço do antigo Canecão, a ser construído como contrapartida do projeto do BNDES, é imperioso que perseveremos no projeto de que é um espaço da UFRJ,  que surpreenda pelas possibilidades de interdisciplinaridade que caracterizam a nossa produção cultural. O Fórum de Ciência e Cultura seguirá sendo apoiado e valorizado. A política cultural aprovada no Consuni seguirá como guia de nossas ações.

Parque Tecnológico – O Parque Tecnológico da UFRJ, com área de 350 mil metros quadrados, é um importante ambiente de inovação do país. Em sua visão, como deve ser a relação entre a Universidade e as empresas?

A interação das empresas do parque com a UFRJ já é um modelo nacional. Há muitas trocas e parcerias. Certamente, algumas áreas são mais beneficiadas pela natureza de suas atividades. Mas várias áreas não óbvias também se beneficiam dessas parcerias. Pretendemos ampliar esse conjunto de ações: cultura e arte, projetos sociais, a consolidação da pesquisa em fármacos com a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz]. A professora Debora Foguel, indicada para a PR-2, tem um belo projeto de “Doutorado Sanduíche” dentro das empresas do parque, desenhado em parceria com as unidades da UFRJ. Além disso, a questão da Bio-Rio está sendo finalmente equacionada por meio da integração das empresas de base tecnológica no parque, abrindo novas possibilidades de interação dos nossos professores e alunos, em especial os do CCS, com empresas de base biotecnológica.

Veja as entrevistas com os outros candidatos:

Denise Pires, candidata à Reitoria

Roberto Bartholo, candidato à Reitoria