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Memória

Entrevista com Roberto Bartholo, candidato à Reitoria da UFRJ

Professor da Coppe responde ao primeiro bloco de questões realizadas pela Coordcom


Roberto Bartholo, candidato pela chapa 20. Imagem: Diogo Vasconcellos – Coordcom/UFRJ

Roberto Bartholo, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), é o candidato à Reitoria da chapa 20 “Minerva 2.0”, que tem como vice João Cury, professor do Instituto de Economia (IE).

Bartholo é graduado e mestre pela UFRJ, além de doutor e pós-doutor por universidades alemãs. Durante sua trajetória na instituição, o professor foi também coordenador acadêmico da pós-graduação e presidente do conselho deliberativo da Coppe, entre outras funções que marcaram sua experiência administrativa e docente.

Confira a seguir a primeira parte da entrevista que o candidato concedeu ao Portal da UFRJ:

Candidatura – Por que o senhor decidiu pela candidatura a reitor da UFRJ? O que foi preponderante para essa escolha?

Isso não foi exatamente algo que eu decidi, mas sim a que eu correspondi. A situação pela qual está passando a nossa Universidade hoje requer uma mudança profunda. Uma rede de pessoas me procurou dizendo que via na minha pessoa uma alternativa de resposta. Eu tive o apoio dessas pessoas, tenho o apoio dessas pessoas, creio que continuarei tendo o apoio dessas pessoas uma vez que me torne reitor da UFRJ. É por isso que me tornei candidato. E, para quem quiser me conhecer mais, pode me ver respondendo em vídeo no nosso canal no YouTube cada uma das respostas que vamos dar à Coordenadoria de Comunicação da UFRJ. Isso faz parte da proposta da nossa chapa: usar as novas tecnologias da informação e comunicação para mudar o modo como esta universidade existe e é vista pela sociedade e pelo seu corpo social. E isso é mais que uma proposta: é um ato. E a existência dessas respostas no nosso canal “Bartholo Reitor da UFRJ” no YouTube é mais um exemplo disso.

Autonomia – Como o senhor enxerga as questões da autonomia universitária e da liberdade de cátedra, importantes na democracia? Como pretende estabelecer relações com o Governo Federal?

Uma universidade que não seja autônoma deixa de ser aquilo pelo que ela deve lutar por ser e afirmar. Deixa de ser uma universidade. Mas essa autonomia tem contexto e limites no enquadramento legal. Minha relação com o entorno da universidade, com o Governo Federal, será pautada pelo marco legal, no qual a autonomia universitária é um valor expresso na própria constituição de nossa república.

Gestão e governança – Caso venha a ocupar o cargo de reitor da maior universidade federal do Brasil, quais serão os principais eixos do seu plano de gestão? Pelo que sua gestão será lembrada?

Nós temos dois graves problemas na UFRJ que, quando se entrelaçam, ficam muito pior. O estrangulamento orçamentário do Brasil que atinge a UFRJ, e o anacronismo e disfunção da gestão na Universidade. Essa é a raiz de tragédias como o [incêndio no] Museu Nacional. Equacionar essa questão é fazer central o gerenciamento de riscos pela incorporação das novas tecnologias de informação e comunicação na gestão. Zelar e desdobrar nossa herança, atualizando-a: termos sucesso no que propomos com Minerva 2.0 seria a melhor lembrança que poderíamos deixar.

Extensão – O primeiro artigo do Estatuto da UFRJ estabelece a Universidade como instituição de ensino, pesquisa e extensão. Como articular esse tripé? E quais são os seus planos específicos para a extensão?

Pesquisa, ensino e extensão são atividades que precisam estar a serviço do valor mais alto, da razão de ser da Universidade: formar gente. São pautadas por como melhor permitir às pessoas construírem relações as mais livres, mais fecundas, mais diversificadas com o mundo. Assim, o plano principal para a extensão é deixá-la livre, algo que passa pelo juízo dos diferentes colegiados lá na ponta, diante do qual a Reitoria oferece suporte, apoio, articulação.

Pesquisa e pós-graduação – O Brasil atravessa um cenário de cortes nos investimentos em pesquisa, além de diminuição dos orçamentos das universidades. Nesse contexto, como se manter produzindo saberes?

Na raiz das dificuldades, está o entrelaçamento de estrangulamento orçamentário e disfunções na gestão. É claro que devemos pleitear uma melhoria dos orçamentos. Mas precisamos primeiro alcançar o melhor desempenho que esteja ao nosso alcance. E a partir daí estabelecermos redes colaborativas com outras instituições parceiras. A razão de ser da Universidade é formar gente: a pesquisa e a produção de papers deve ser um elemento subsidiário, que aprofunda e multiplica oportunidades em percursos de formação.

Ensino – A edição 2018 do Ranking Universitário da Folha (RUF) posiciona a UFRJ em 2° lugar no quesito “valorização para o mercado de trabalho no Brasil”. Como manter e ampliar a qualidade dos cursos de graduação?

Assegurar a infraestrutura é o essencial, estabelecendo gerenciamento de riscos e planejamento de contingências, arrestando e compensando a degradação, sem o que não será possível manter e ampliar a qualidade de cursos de graduação. O lugar que nós ocupamos no cenário nacional só é possível e só existe em função da dedicação e do zelo do nosso corpo docente, do nosso corpo técnico e dos nossos estudantes, cujas novas formas associativas – atléticas, empresas juniores, ligas e grupos, equipes de competição – são um vetor de qualidade a ser reconhecido, valorado e apoiado.

Políticas estudantis – A UFRJ aprovou recentemente uma nova política estudantil. Quais são suas propostas para a Assistência Estudantil, de forma a garantir a permanência dos estudantes na instituição?

Todos os três elementos constitutivos da comunidade da UFRJ – docentes, técnicos-administrativos, discentes – estão sofrendo uma forte transformação. Então a nova política é algo que se impõe com respeito aos estudantes também. A evasão precisa ser mais bem compreendida e enquadrada. Para isso é necessário superar as precariedades que inviabilizam a permanência, despertar em meio aos estudantes um empenho por permanecer num lugar que lhes é valioso porque traz reais contribuições para suas vidas. A nova política estudantil não deve e não pode ser apenas focada na Assistência Estudantil. A assistência é um aspecto, uma dimensão do acolhimento. Essa é a proposta maior: o acolhimento dos estudantes, que precisa ter ainda uma dimensão de orientação vocacional e uma dimensão de assistência psicológica.

Segurança – Qual é a sua proposta para que a comunidade universitária possa se sentir mais segura nos diversos campi? Como deve ser a relação com as autoridades responsáveis pela segurança pública?

Para um reitor, é inviável imaginar uma atuação no âmbito da segurança que não seja em colaboração com os poderes públicos. A principal proposta que a Reitoria pode ter é o uso combinado de parcerias para o que está além de sua alçada, seja isso no âmbito municipal, no âmbito estadual ou no âmbito federal, com a incorporação de um gerenciamento de riscos cotidiano, apoiado em iluminação, vigilância presencial, adensamento comunitário do local com ênfase preventiva – prevenção do risco é segurança, evitar incêndio é segurança, evitar alagamento é segurança.

Internacionalização – A UFRJ é a terceira melhor universidade da América Latina, conforme recentes rankings universitários. Como tornar a instituição ainda mais prestigiada internacionalmente?

Muito mais importante do que o lugar num ranking é que a universidade consiga ser uma instituição “glocal”: uma instância de tradução entre saberes globais e saberes locais. Enraizada numa determinada identidade cultural, apta a integrações com outras identidades culturais, apta a trazer para a singularidade desse seu sítio a universalidade do acervo cultural humano. Seu prestígio decorre antes de tudo da contribuição de seus diplomados para suas vidas, para suas localidades, para sua sociedade, para a humanidade em razão dos percursos de formação que tenham conseguido cursar.

Veja as entrevistas com os outros candidatos:

Denise Pires, candidata à Reitoria da UFRJ

Oscar Mattos, candidato à Reitoria da UFRJ