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Entrevista com Oscar Mattos, candidato à Reitoria da UFRJ

Professor da Coppe e da Poli responde ao primeiro bloco de questões realizadas pela Coordcom


Oscar Mattos: Foto: Ana Coutinho – Coordcom/UFRJ

Oscar Mattos, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) e da Escola Politécnica (Poli), é o candidato à Reitoria, para a próxima gestão, pela chapa 40: “Unidade e diversidade pela universidade pública e gratuita.” Ele tem como vice a professora Maria Fernanda Quintela, do Instituto de Biologia (IB).

Mattos é graduado e mestre pela UFRJ, doutor por uma universidade francesa e pós-doutor também pela UFRJ. Durante sua trajetória na instituição, foi também coordenador de cursos e professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe).

Confira a seguir a primeira parte da entrevista que o candidato concedeu para o Portal da UFRJ:

 

Candidatura Por que o senhor decidiu pela candidatura a reitor da UFRJ? O que foi preponderante para essa escolha?

As circunstâncias não permitem omissão diante da necessidade de unificar a comunidade em defesa do futuro da universidade pública, gratuita, laica, autônoma e comprometida com o desenvolvimento econômico, social e cultural dos povos. O convite para nossa candidatura partiu de uma frente democrática que reúne professores, técnicos-administrativos e em educação e estudantes muito fortemente engajados na vida universitária. Diante de um contexto de tantas incertezas sobre o futuro da universidade pública, essa frente entendeu que, mais do que pretensões individuais e de grupos, era preciso uma chapa com potencial unitário. Por isso, estamos aqui, honrados com o reconhecimento de importantes setores da comunidade universitária da UFRJ, abertos ao diálogo, objetivando construir, na diversidade que nos caracteriza, a unidade que o momento histórico exige.

 

Autonomia Como o senhor enxerga as questões da autonomia universitária e da liberdade de cátedra, importantes na democracia? Como pretende estabelecer  relações com o Governo Federal?

A autonomia universitária é condição para uma universidade de excelência, criativa, crítica e efetiva. É um pré-requisito à liberdade de cátedra, estabelecida pela Constituição Federal. Não é uma questão de governo, mas um princípio do Estado brasileiro. Há movimentos na sociedade que gostariam de ver a autonomia restringida em prol de certas concepções fundamentalistas, mas a força da comunidade universitária, da sociedade, que entende o nosso papel, e o vigor das federais não permitirão que tais visões dogmáticas prevaleçam. A decisão do STF sobre o tema foi clara e contundente. A relação com o governo se dará a partir do estatuto da autonomia universitária, por meio de agendas que combinem as pautas do conjunto das federais (Andifes) [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior] e as internas. A UFRJ sempre manteve diálogo com os governos. Temos confiança de que nossa conduta ética, propositiva, qualificada e fundamentada possibilitará manter abertos os canais de comunicação com todas as esferas de governo.

Gestão e governança Caso venha a ocupar o cargo de reitor da maior universidade federal do Brasil, quais serão os principais eixos do seu plano de gestão? Pelo que sua gestão será lembrada?

Queremos seguir aperfeiçoando a gestão dos contratos, projetos, programas, por mais eficiência. Isso requer perseverar na formação do pessoal técnico-administrativo e em educação, além de buscar melhorias nas condições de trabalho. A completa implementação do SEI [Sistema Eletrônico de Informações] e a estruturação de um eficiente programa de gestão de riscos são medidas fundamentais. Um sistema moderno de gestão é também um sistema que alcança todas as unidades. A Reitoria deve atuar em prol do conjunto da instituição e, ao mesmo tempo, das demandas específicas das unidades. Queremos ser lembrados pela democracia, pelo compromisso ético com os desafios da humanidade e pela capacidade de construirmos coletivamente respostas que fortaleçam o desenvolvimento institucional da UFRJ. A sofisticação de nossas atividades de ensino, pesquisa e  extensão, a oferta do melhor a nossa comunidade, uma cada vez mais qualificada assistência em nossos hospitais universitários são causas que nos apaixonam e mobilizam!

 

Extensão O primeiro artigo do Estatuto da UFRJ estabelece a Universidade como instituição de ensino, pesquisa e extensão. Como articular esse tripé? E quais são os seus planos específicos para a extensão?

A extensão expressa uma concepção de universidade, da formação e de sua função social. Uma via de mão dupla com a sociedade. Envolve, portanto, dimensões éticas, epistemológicas e o compromisso social da instituição. A originalidade da CF de 1988 é a indissociabilidade com o ensino e a pesquisa. Existem proposições na LDB [Lei de Diretrizes Básicas], no Plano Nacional de Educação e no Conselho Nacional de Educação sobre a melhor institucionalização da extensão. A UFRJ avançou nessa perspectiva, com base em sua bela tradição extensionista. Com a construção ativa de consensos, pretendemos avançar na institucionalização do Conselho de Extensão e na organização da oferta de créditos para a formação integral de nossos estudantes. A atualização dos currículos para incorporar os 10% da extensão é muito importante. Nossa chapa vai concluir esse processo. Quanto à obrigatoriedade da extensão para a progressão funcional, compete às congregações definir o rol das atividades passíveis de contabilização.

Pesquisa e pós-graduação O Brasil atravessa um cenário de cortes nos investimentos em pesquisa, além de diminuição dos orçamentos das universidades. Nesse contexto, como se manter produzindo saberes?

Os cortes em pesquisa impactam diretamente a produção científica da UFRJ. As verbas de custeio de capital do MCTIC [Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações], em 2014 , foram de R$ 8,2 bilhões; entre 2016 e 2019 estão estagnadas na ordem de R$ 4,2 bilhões. O quadro é tão grave que as principais revistas científicas mundiais, como a Nature, estão alertando para o risco de colapso da ciência brasileira. Houve redução de cerca de 25% do número de bolsas de produtividade do CNPq em dois anos. Da mesma forma, a alta taxa de mestres e doutores desempregados também serve de desestímulo para nossos estudantes. A UFRJ oscila entre a primeira e segunda melhor universidade do país. Temos que cuidar desse patrimônio e evitar que percamos nossos professores para o exterior. O que estiver ao nosso alcance será feito, como, por exemplo, manter um forte programa Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica], além de editais internos para apoiar, em especial, os novos docentes a estabelecerem seus grupos de pesquisa. Outros editais serão pensados e lançados.

Ensino A edição 2018 do Ranking Universitário da Folha (RUF) posiciona a UFRJ em 2° lugar no quesito “valorização para o mercado de trabalho no Brasil”. Como manter e ampliar a qualidade dos cursos de graduação?

A elevada qualidade dos cursos de graduação é uma tradição e um patrimônio da UFRJ. Não há especialização entre professores que atuem apenas na pós: todos estão na graduação e queremos que todos estejam na pós. A formação de qualidade envolve rigor teórico, ensino capaz de interpelar os principais problemas da sociedade, a valorização da criatividade e a interação com a pesquisa, por meio do Pibic, monitorias e participação em grupos de pesquisa, envolvimento teórico-prático na saúde e, também, nas escolas públicas o que será fortalecido e ampliado com o Complexo de Formação de Professores. Em suma, entendemos que os estudantes são construtores da Universidade e parte do governo compartilhado que acreditamos ser necessário à unidade e diversidade na UFRJ. É a partir desses parâmetros que a nossa chapa pensa a UFRJ interagindo com as demandas da sociedade. Não queremos nos adaptar passivamente ao mercado, mas interagir, de modo criador, com o mundo do trabalho.

Políticas estudantis A UFRJ aprovou recentemente uma nova política estudantil. Quais são suas propostas para a Assistência Estudantil, de forma a garantir a permanência dos estudantes na instituição?

Atualmente, a UFRJ possui 1/4 de estudantes oriundo de fora do estado do Rio e em torno de 60% da totalidade dos estudantes com perfil Pnaes (Plano Nacional de Assistência Estudantil) − com renda per capita familiar de até um 1,5 salário mínimo. Nossa Reitoria apoiará as lutas pela manutenção e ampliação das políticas afirmativas. Temos o compromisso com investimentos em moradia estudantil e restaurantes universitários. O projeto feito com assessoria do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] poderá viabilizar novas moradias. Estamos informados de que a atual Reitoria está discutindo com a nova direção da Caixa Econômica Federal a construção de um programa, algo como “Minha Casa Universitária”. Ainda que em contexto de dificuldade, priorizaremos no orçamento verbas para a assistência estudantil. Nosso maior patrimônio é a formação de nossos estudantes.

Segurança Qual é a sua proposta para que a comunidade universitária possa se sentir mais segura nos diversos campi? Como deve ser a relação com as autoridades responsáveis pela segurança pública?

Trabalharemos com dois planos, além de uma adequação geral aos novos padrões de prevenção contra incêndio e segurança patrimonial. Um plano mais emergencial, no qual vamos agilizar o apoio ao Programa Rio Mais Seguro – Fundão. A perspectiva é contar com quatro viaturas permanentemente e guardas nos estacionamentos das 6h às 22h. Nos hospitais, segurança 24 horas. Esse é um programa realista autofinanciado pela taxa condominial. É preciso assegurar que 100% de nossos campi sejam monitorados por câmeras, com melhorias na iluminação. Bloquear a cidade universitária pode ser exequível em situações específicas. Um segundo plano diz respeito ao apoio da Universidade na solução dos problemas de segurança da sociedade. Os estudiosos convergem na necessidade de uma profunda reforma do sistema policial, repressivo, seletivo em sua letalidade e ineficiente. Até hoje não temos respostas para o caso do assassinato do estudante Diego Machado.

Internacionalização A UFRJ é a terceira melhor universidade da América Latina, conforme recentes rankings universitários. Como tornar a instituição ainda mais prestigiada internacionalmente?

Pretendemos seguir elevando nossos dados e indicadores. Vamos apoiar a construção do Programa PrInt interno, em andamento. As bolsas disponíveis precisam ser otimizadas em proveito da internacionalização. Queremos fortalecer a mobilidade estudantil (Erasmus, AUGM [Associação de Universidades Grupo Montevidéu], …), de docentes e servidores técnico-administrativos e em educação. Muitos de nossos problemas são planetários. Outros têm forte dimensão regional. A UFRJ está em parques tecnológicos da China, nas melhores universidades dos EUA, Europa e, cada vez mais, queremos dialogar com experiências formativas, dupla diplomação, reconhecimento automático de títulos, como os viabilizados nos últimos anos na engenharia (Universidade do Porto) e na medicina (Universidade de Lisboa). Nossa chapa não vai negligenciar interações com a América Latina e a África. Partilhamos laços, raízes e problemas comuns. Vamos tocar esse programa com carinho e muita seriedade. Internacionalização é uma atividade-meio, e não atividade-fim!

Veja as entrevistas com os outros candidatos:

Denise Pires, candidata à Reitoria da UFRJ

Roberto Bartholo, candidato à Reitoria da UFRJ