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Memória

“A representatividade deve estar nos três poderes da República”

Martinho da Vila defende representatividade e diz que não vê fronteiras entre Brasil e Moçambique

Por Jean Souza

A entrevista foi um ping-pong rápido, em meio a muitos shows entre Brasília e São Paulo, no mês da Consciência Negra. Mas o cantor, compositor e escritor Martinho da Vila conseguiu arrumar tempo na agenda e responder ao Portal UFRJ sobre a celebração deste 20 de novembro.

Titulado doutor honoris causa pela Faculdade de Letras da UFRJ em 2017, por suas contribuições à cultura e à arte do país, ele fala sobre representatividade e inspirações na literatura. Confira:

 

O que o Dia da Consciência Negra representa para você?

O Dia da Consciência Negra, determinado por lei promulgada pela presidente Dilma Rousseff em 2011, representa um grande passo na luta pelo reconhecimento da importância do negro no contexto brasileiro. Vinte de novembro é um dia de reflexão e foi escolhido em homenagem a Zumbi dos Palmares, um símbolo das lutas pela liberdade e igualdade.

 

Você é um dos intelectuais brasileiros com profícuo diálogo com a África. Como tem sido esse trânsito, principalmente acadêmico, com o continente, justamente num momento em que diversos estudiosos propõem um movimento de descolonização do pensamento?

Em termos intelectuais eu dialogo com a África através dos livros que leio e dos que escrevo. A desconstrução do pensamento é uma tese defendida com evidência pelo escritor Mia Couto, que me levou a constatar que não há fronteira entre Brasil e Moçambique, e ele pode se considerar brasileiro, assim como eu considero os moçambicanos como irmãos.

 

Como você vê a questão do racismo, hoje, no país? Considera que a população negra enfrenta um cenário em que a discriminação é tratada como vitimização?

A questão do racismo hoje, no Brasil, resume-se na luta pela inclusão social. A inclusão começa pelas oportunidades de trabalho para os negros e representatividade em todos os setores da sociedade, inclusive na classe dominante e nos três poderes da República. Vitimizar a discriminação racial é uma espécie de racismo que sempre foi combatida pela população negra. 

 

Como doutor honoris causa titulado recentemente pela Faculdade de Letras da UFRJ, quais leituras você considera centrais para que os brasileiros pensem sobre a realidade social do país?

É importante ler os livros do Lima Barreto, em particular o Bruzundangas, muito atual.

 

Que futuro imagina que os próximos anos reservam para aqueles que lutam por igualdade racial?

A luta vai continuar por longos anos. Eu sonho com o dia em que não haverá necessidade de organizações de militantes do Movimento Negro.

 

Confira as outras entrevistas da série sobre a Consciência Negra:

A filosofia stricto sensu dos terreiros de candomblé, Muniz Sodré 

“Racismo é um câncer social que dá em pessoas brancas”, Aza Njeri. 

“Não deixaremos de ocupar os lugares na sociedade”, Dandara Silva. 

“Mulheres negras são alvo preferencial da violência de gênero”, Érika Fernanda de Carvalho.