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Memória

Dois anos sem Diego Vieira Machado

Carta da Reitoria

Completam-se, neste mês, dois anos da morte de Diego Vieira Machado, estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vítima de uma perigosa violência, que a todos nós causa perplexidade e revolta, Diego suscita, in memoriam, muitas questões para a comunidade acadêmica e a sociedade. Por que a morte de um estudante da forma como aconteceu? Como lidar com o assassinato de mais um jovem negro e LGBTQI? Em que estado de coisas estamos vivendo no país, que nos leva a chegar aos dias de hoje sem uma resposta sequer para as motivações do crime? 

Nos dois últimos anos, buscamos respostas e apoio junto às autoridades responsáveis. A pauta de seu assassinato entrou numa agenda difícil para a Universidade, que é a da fragilidade dos aparatos de segurança no Rio de Janeiro e como esse cenário resvala, em muitas ocasiões, para o nosso ambiente universitário. Pessoalmente, o reitor Roberto Leher teve quatro reuniões com a Secretaria de Segurança do Estado do Rio, uma com o ministro da Justiça, Torquato Jardim, e outras três com a alta cúpula da Polícia Civil, para tratar de temas de segurança pública críticos à comunidade da UFRJ. E, reiteradamente, sobre o caso Diego Vieira Machado. 

Ao procurar apoio às investigações junto a comissões de direitos humanos nacionais e internacionais, de órgãos governamentais e organizações independentes, a UFRJ assume seu compromisso institucional contra a banalização do esquecimento e a naturalização da impunidade diante dos inaceitáveis assassinatos motivados por ódio no país, condição que nos aproxima da barbárie e do estado de exceção. 

Até o momento, nenhuma comunicação oficial da UFRJ direcionada a comissões e ao estado foi respondida. Não podemos tratar como acontecimentos do curso normal da vida social as mortes que – como a de Diego – caem nas estatísticas dos assassinatos sem respostas, da banalização da violência na cidade. A UFRJ não pode aceitar doutrinas de segurança que concebem que muitos dos 318 mil jovens assassinados violentamente entre 2005 e 2015, grande parte negros, sejam vistos como “efeitos colaterais e parte das baixas da guerra às drogas”. Tampouco é possível banalizar o uso de jovens como força de trabalho de organizações criminosas, condenados a morrer em prol dos lucros dessas organizações. A UFRJ alerta para o aumento dos casos de assassinato com motivações claramente políticas e ideológicas. É preciso justiça. 

É preciso justiça para a morte de Diego, mas também para o menino Marcus Vinicius da Silva, morador da Maré, para Marielle Franco e Anderson Gomes, para milhares de cidadãos que nem mesmo têm seus nomes conhecidos ou estampados nas pequenas notas dos jornais, para tantas outras vítimas desse cenário inaceitável de assassinatos diários, crimes sem solução, perseguição a LGBTQIs, ativistas dos direitos humanos, pobres, negros e negras, moradores de favelas…

A UFRJ continuará exigindo respostas. E não aceitará o esquecimento. Nos muros e nas paredes da Universidade, nas interrogações, a memória de Diego Vieira Machado estará sempre presente. 

Reitoria da UFRJ

Julho de 2018

imagem: acervo pessoal