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Desigualdades sociais: ainda um desafio

Em entrevista ao UFRJ Plural, o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Frederico, comentou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, que registrou o aumento individual da renda nos estratos mais baixos da população.

No entanto, para ele, a elevação do salário mínimo e as políticas assistenciais – principais responsáveis pelos números revelados pela pesquisa do IBGE – já não bastam para o Brasil superar, de vez, as suas desigualdades sociais históricas. Para isso, afirma que será necessário alterar a distribuição funcional da renda, reduzindo os ganhos derivados dos lucros, dos juros e da propriedade da terra.

Ao comentar a política industrial, Carlos Frederico, que é editor da Revista de Economia Contemporânea, denunciou o risco de o Brasil abrir o território para multinacionais montarem produtos sofisticados para exportação a baixo custo. É o caso da Foxconn. Atraída pelos subsídios governamentais, a empresa veio para o país fabricar iPads e iPhones com o emprego de mão de obra feminina desqualificada.

UFRJ Plural – O governo comemorou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2011, divulgados em setembro deste ano pelo IBGE, especialmente pelo aumento de 8,3% da renda média mensal dos trabalhadores entre 2009 e 2001. Como o senhor avalia esse indicador?

Carlos Frederico
– A renda média do trabalhador ter aumentado é algo interessante, mas o mercado de trabalho, principalmente em 2010, estava muito aquecido, situação que perdurou em boa parte de 2011. Acredito que parte desse aumento se deva ao mercado e a outra parte a uma política agressiva de aumento do salário mínimo, que tem se mostrado importante do ponto de vista social.

UFRJ Plural – O senhor tem ideia do percentual de pessoas da população economicamente ativa com rendimentos vinculados ao salário mínimo?

Carlos Frederico – O que eu posso dizer é que toda a mão de obra de baixa qualificação, principalmente a informal, tem o seu salário vinculado ao mínimo. É algo estranho, porque o salário mínimo está voltado para o mercado formal. No entanto, ele repercute sobre o mercado informal.

UFRJ Plural – Algumas análises consideram que, embora tenha havido uma evolução na distribuição de renda na base da sociedade, o topo da pirâmide continua sendo beneficiado pelas políticas macroeconômicas. Como o senhor avalia isso?

Carlos Frederico
– Quando dividimos a renda por estratos, os resultados que obtemos, de maneira geral, é que as faixas mais altas tiveram um crescimento menor da renda nos últimos 10 anos. Estamos falando aqui dos 10% mais ricos da sociedade. Dentro dessa faixa, reclamava-se muito dos chamados rentistas, que obtém a sua renda não do trabalho, mas do capital e de outros tipos de renda. Nesta classe, as rendas derivadas dos juros nos últimos anos, por exemplo, foram certamente relevantes. Mas, recentemente, houve uma mudança expressiva na política de juros. Tanto que o governo teve que mudar as formas de remuneração da caderneta de poupança. Portanto, esse tipo de renda tende a diminuir e acho que 2011 ainda não captou essa mudança.

UFRJ Plural – E como o senhor avalia a política macroeconômica para enfrentar a crise, como isenções fiscais para alguns setores industriais? Esse caminho é correto?

Carlos Frederico
– Qual a preocupação do governo? A série de produção industrial do Brasil vinha crescendo muito bem até 2009, acompanhando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Quando vem a crise internacional, acontece uma quebra nessa série. Há uma queda substantiva da produção industrial, que é parcialmente recuperada em 2010, mas que não tem prosseguimento nos anos seguintes.

UFRJ Plural – São os efeitos prolongados da crise?

Carlos Frederico
– A crise gera uma capacidade ociosa no mundo. Muitas indústrias passam a não conseguir mais colocar a sua produção em mercados para os quais já vendia. Houve uma oferta maior e o deslocamento de produção para outros mercados que conseguiram manter o seu crescimento. O Brasil sofreu bastante com esse processo.

UFRJ Plural – Que segmentos sofreram mais?

Carlos Frederico
– Vou dividir a nossa indústria em quatro segmentos: agroindústria, commodities industriais, bens duráveis e, por último, uma indústria tradicional intensiva em trabalho. Esta última ocupa cerca de 60% da mão de obra industrial e abrange setores como o de tecidos, calçados, brinquedos, alimentos, entre outros.

UFRJ Plural – Essa indústria foi a mais afetada pela entrada de produtos importados?

Carlos Frederico
– Sim, principalmente chineses. São produtos que ficaram ainda mais baratos com a crise econômica. Essa indústria tradicional ocupa cerca de três a quatro milhões de postos de trabalho, que não se pode jogar fora de uma hora para outra.

UFRJ Plural – E como o senhor avalia as isenções de IPI para a indústria automobilística?

Carlos Frederico – Analisando os efeitos da crise, percebemos que muitos utilitários que antes eram dirigidos ao mercado norte-americano, que entrou em crise em 2008, passaram a entrar no país. Os Estados Unidos, por exemplo, eram o principal mercado da indústria mexicana, que redirecionou a sua produção para o Brasil. Nesse segmento, isso não implicaria em destruição da nossa indústria como aconteceria com a entrada maciça de bens da indústria tradicional, que é mais frágil.

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