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Evento debate desenvolvimento sustentável

A mesa-redonda “Ressignificando o Desenvolvimento Sustentável”, realizada na última segunda-feira (5/12), abordou três temas principais: desafios para a “Rio+20”, redução da pobreza e economia verde. Um dos objetivos da palestra foi resgatar o papel social da academia no debate de economia sustentável, trazendo à tona a plurissignificação do termo “desenvolvimento sustentável”. O evento, organizado pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia de Comunidades e Ecologia Social (Eicos), vinculado ao Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, contou com a presença de Jean Philippe Pierron, professor de Filosofia da Universidade de Lyon 3, na França.

A mesa de debate foi composta pelos professores Fred Tavares, da Escola de Comunicação (ECO), e Estela Neves, da pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED), vinculada ao IP-UFRJ. Além disso, o encontro foi coordenado por Marta Irving, professora do Eicos-UFRJ.

Pierron deu início ao debate esmiuçando o termo “desenvolvimento sustentável”. Segundo ele, trata-se de um resultado entre compromisso e crescimento econômico. “Técnica, natureza e história devem caminhar lado a lado, fazendo-nos repensar se é possível outro modo de habitar a Terra. Aliás, devemos repensar a ideia de habitar, muitas vezes sendo confundida com dominação”, explicou. Além disso, o palestrante falou de dois conceitos decisivos: “necessidade”, principalmente no que tange à vulnerabilidade e dependência humana com relação aos recursos naturais, e “engajamento”, que diz respeito ao compromisso que devemos ter, individual e coletivamente, com os acordos que são acertados.

O docente também fez críticas ao termo. “A expressão ‘desenvolvimento sustentável’ é vaga, flexível, meramente verbal. Une duas categorias que são incompatíveis, já que se conserva o paradoxo de crescimento e limite”, questionou. “O desafio do desenvolvimento sustentável é ser traduzido na singularidade de cada idioma, de forma que seja entendido da mesma maneira em todos os países do globo”, completou.

A professora Estela Neves abordou a vulgarização do tema, principalmente no Brasil, onde a população ainda é leiga com relação à economia verde e suas consequências. “Não há conhecimento suficiente sobre as decisões que serão tomadas esta semana no Congresso, no que tange ao Código Florestal, por exemplo, tanto da população em geral, como muitas vezes da própria academia”, afirmou a docente. Para a professora, desigualdade e pobreza são problemas negligenciados pelo poder público. “Não se vê relatórios internacionais aprofundados sobre isso. Conduz-se a discussão para tecnologia e produção, mas não para o modo de consumo”, analisou.

Estela Neves ponderou sobre a questão institucional e como as organizações pouco discutem o papel do Estado na tomada de decisões. “No Brasil, arrastam-se problemas que nos impedem de alcançar patamares de qualidade de vida primordiais para a população, como transporte público, agricultura, ecoturismo, entre outros. Temos que pensar nos deveres de casa históricos e, antes de se consolidar um consumo sustentável como em países desenvolvidos, é necessário conquistar um papel digno de consumo para a maioria”, concluiu.

Fred Tavares abordou as questões econômicas e midiáticas e como estas se sobrepõem às demandas ambientais e sociais. Segundo o docente, a temática do consumo se pauta sobre a insaciabilidade e esta é alimentada pelo “marketing verde”. O professor explicou que, na lógica do capitalismo imaterial, também chamado de parasitário, o qual vivemos hoje, não se pensa na erradicação da pobreza, pois esta é necessária para a manutenção do sistema.

Por fim, Tavares falou sobre a ética e estética da natureza como mercadoria e a apropriação dessa ideia pela mídia. “As pessoas se vêm obrigadas a consumir para pertencer. E não só consumir, mas cumprir pequenos ‘ecogestos’ no cotidiano, como não utilizar sacolas plásticas, usar bicicleta etc. E, de fato, as pessoas não param para pensar se isso é suficiente, já que isso as tiraria da zona de conforto”, finaliza.