Especialistas e profissionais envolvidos na atividade de proteção e segurança dos campi da UFRJ debateram, ao longo da semana, os avanços tecnológicos, a atividade de vigilância e a implantação de medidas para aperfeiçoar o patrulhamento na Cidade Universitária. Embora com o abrangente tema “Que segurança queremos para a UFRJ?”, o evento ocorrido entre 8 e 10 de novembro, na Faculdade de Letras, teve participação restrita de quem exerce a atividade e quase nenhuma representação de estudantes e professores, apesar de o tema estar sob os holofotes da mídia devido à ocupação estudantil da Universidade de São Paulo (USP).
O delegado Deoclécio Assis Filho, da 37ª DP, responsável pelas investigações criminais na Ilha do Governador e no campus do Fundão, apresentou no primeiro dia números da violência nas áreas e afirmou que são baixos se comparados a outros pontos da cidade. Em média, 750 registros de crimes são efetuados mensalmente na delegacia, enquanto na Barra da Tijuca e Bonsucesso os números saltam para 1.800 ao mês. “Aqui é local de grande concentração de pessoas, com perfil financeiro elevado, que estudam e trabalham em área extensa com vários acessos, mas sem controle na entrada e na saída. Estávamos registrando quatro casos de sequestro relâmpago por mês”, disse.
Para ele, os números mostram que a Cidade Universitária é considerada uma área relativamente segura. Em junho e julho, segundo o delegado, zeraram as ocorrências a partir de um trabalho de policiamento ostensivo, que não cabe à Polícia Civil por limitações constitucionais e estruturais. Um batalhão da PM tem dez vezes mais policiais para cumprir essa tarefa. Segundo ele, a equipe tem investigado e capturado criminosos, fazendo até mais que o possível dentro das limitações legais, mas ele admitiu que não pode resolver o problema e assegura que ninguém que o substitua possa fazer.
Para Deoclécio Filho, a postura das pessoas precisa mudar para ajudar nas investigações que levam à prisão dos criminosos. O medo das vítimas para identificar os criminosos, relatos inconsistentes ao narrar a experiência negativa, falta de monitoramento de imagens em todo o campus estão entre os fatores que prejudicam o trabalho de apuração. “O bandido sempre procura novas vítimas quando tem a oportunidade. As pessoas devem perder o medo de colaborar com a polícia, pois elas não voltarão a ser atacadas”, afirmou ele, reclamando que muitas vezes os casos de sequestro são informados por funcionários da Prefeitura Universitária, pois a vítima não registra a ocorrência e nem sequer comparece para uma entrevista informal que ajude a fornecer
detalhes que podem indicar quem são os criminosos e a maneira como eles agem.
O professor Antônio Carlos Thomé, que capitaneou a equipe criadora do Projeto Kapta – software para captura de imagens de veículos que ingressam no campus, destacou que a falta de manutenção dos equipamentos é um problema. Segundo Thomé, a Reitoria recebeu ano passado um relatório com as vulnerabilidades da segurança no campus e sugestões.
Na opinião dele, é preciso aperfeiçoar e ampliar o sistema, uma ferramenta moderna que valoriza as informações que são fornecidas pela tecnologia. “Hoje, com cinco anos de implantação, não tivemos manutenção ou substituição do equipamento. A equipe de operação foi substituída por outra terceirizada. Nada eu tenho contra a terceirização, mas qualquer um sabe que a operação de um sistema de segurança não pode estar na mão de qualquer um. É preciso seleção criteriosa e treinamento para quem vai lidar com informações críticas e que podem ser mal usadas”, afirmou.
A terceirização da vigilância do campus também foi um dos temas debatidos, assim como a segurança nos estacionamentos. O prefeito da Cidade Universitária, Ivan Carmo, lembrou que há implicações legais limitando a vigilância patrimonial. “Veículos estacionados em área pública passam a ficar sob responsabilidade de quem os confina. A ideia da Reitoria atual é ter estacionamento gratuito, com acesso controlado por cancelas e monitoramento de quem entra e sai. A Prefeitura da UFRJ tem atuado para estimular o uso do transporte público, algo que deve melhorar muito nos próximos anos com a chegada do BRT à Cidade Universitária. “Antes, porém, teremos que conviver com obras e engarrafamentos, algo que acirra os ânimos. Estamos procurando soluções e vamos fazer investimentos para manter distante tudo que possa acarretar violência no campus”, disse Carmo.