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Colóquio debate percepção nas artes

No segundo dia de apresentações do “Colóquio Escolas da Percepção no 2º”, realizado no Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) da UFRJ, os palestrantes convergiram para a ideia de que a percepção é fundamental nos diversos campos da arte. Cinema, pintura, dança, todas estas formas de expressão artística requerem observação de quem produz e de quem assiste para adquirir significado.

A professora Leila Reinert, da Universidade Mackenzie, em São Paulo, abordou a relação entre arte e artista. “A afinidade que se estabelece entre esses dois polos tem um ‘quê’ de magia. É algo bem pessoal, um gesto, um modo de existir e perceber dentre muitos outros”, explicou.

Tendo em vista a subjetividade deste meio, a docente disse que qualquer coisa é ou pode ser arte. “Tudo é uma questão de percepção, de sentimento. Arte é a ciência da observação”. E completou falando sobre seu novo modo de contemplar a arte no cotidiano: “Meu novo hobby é colocar batatas doces e batatas inglesas na água. Começam a nascer várias plantas e às vezes flores desses legumes. É o sublime no banal”.

Além disso, Leila falou sobre a diferença entre ver e olhar. “Ver passarem os barcos não é o mesmo que olhar os barcos passarem. Olhar é situar-se, é pertencer. As pessoas precisam de tempo e cuidado para compreenderem a dimensão da arte no cotidiano. E só nós mesmos temos condições de nos dar esse tempo, temos que nos propor isso”, concluiu.

Já a professora Júlia Almeida, da Universidade Federal do Espírito Santo, fez uma breve discussão sobre a relação entre título e quadro na pintura de Gonçalo Ivo, pintor, ilustrador e professor brasileiro, a partir das relações de Jean-Pierre Changeux e Michel Foucault.

Segundo ela, a princípio, o que se escrevia tinha relação restrita com o que se observava. “Uma coisa era apenas a descrição da outra. Foi na arte moderna que houve uma contestação mais marcante desses princípios, de modo que o enunciado passa a contrapor a identidade das figuras”, esclareceu. Como exemplo, Júlia lembrou o famoso quadro Ceci n’est pas une pipe (isto não é um cachimbo), no qual o artista René Magritte brinca com o real e a representação através do desenho de um cachimbo.

A artista circense, Anick Lorena, aluna da Universidade das Quebradas da UFRJ, falou da dificuldade em desempenhar o papel do palhaço, já que este pode ser vários em um só. Ela recitou um poema de sua autoria, explicitando também a questão de gênero e como foi difícil vencer o preconceito de ser mulher e palhaça.

Anick associa os palhaços aos personagens de Charles Chaplin. “Nessas duas formas de expressão, o artista envolve o público sem nada dizer. O olhar é a linguagem não-verbal mais eficiente, mais ainda que a própria fala em algumas ocasiões”, esclareceu.

Por fim, o professor Francisco Rômulo, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, abordou a questão do cinema por um viés histórico e científico, deixando a arte em segundo plano. Para o docente, apesar de o cinema ter surgido em 1895 com os irmãos Lumière, seu papel artístico só se instaurou em 1915, com o filme Nascimento de uma nação, de Griffith.

Rômulo falou ainda da forma como o cinema se constituiu em um elemento consolidador das mudanças anatômicas e fisiológicas pelas quais passou o homem moderno e como este se configurou de acordo com estudos da psicologia das multidões. “Cinema é a arte da consciência, da mente, assim como a música se constitui pela audição e a pintura pela visão”, concluiu.