Em pesquisa realizada por Glória Maria Castilho, pós-graduanda do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, com idosos do ambulatório do Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI), projeto da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI-Uerj), concluiu-se que é importante que alguns idosos tenham um lugar para falar a partir de perdas significativas da velhice.
Segundo Glória, ao chegar à terceira idade, os idosos se confrontam com diferentes dimensões de perdas significativas, sejam elas de origem familiar, de trabalho ou de saúde. Para a pesquisadora, “é necessário trabalhar a partir das perdas, elaborar algo. A morte se apresenta em qualquer idade, não é peculiaridade da velhice. Idosos se confrontam com perdas e, para Freud, é a maneira como se entra em contato com a questão da morte”.
Para a Psicanálise, não é tão evidente o nexo da relação velhice e morte, mas há, sim, a radicalidade da condição de estar idoso e não necessariamente estar sozinho, pois, muitas vezes, há o apoio familiar. No entanto, Glória Maria trata do eixo solidão-isolamento, cuja distinção é ponto central em sua tese. Na etimologia, “solidão” tem raiz no “solo”, enquanto “isolamento” tem raiz etimológica em “ilha”, o que permite perceber a diferença no sentido de ambas.
Em “isolamento”, há a perda dos laços sociais. Ao parar de trabalhar, por exemplo, há uma perda de muitos desses laços, o que qualifica uma das possíveis dimensões da perda. Na solidão, há algo que, ao contrário do isolamento, requer laços. “Gosto de utilizar metáforas para explicar isto: um cantor que deixa sua banda para seguir carreira solo ainda vai necessitar de muitas pessoas em seu entorno, de muitos laços para que possa se realizar”, caracteriza a pesquisadora.
Glória Maria Castilho explicitou a importância de um projeto voltado para a terceira idade, incentivando os idosos a criarem novos laços sociais. A singularidade de cada um, algo decisivo para a Psicanálise, faz com que haja diferentes repertórios pessoais de interesses, gostos e talentos, e, para os idosos, é necessário inventar atividades que partam desse repertório de cada um, como arte, política, história, dança.
“É importante que os analistas se interessem em ouvir os idosos, para que estes possam, frente à radicalidade das perdas, lidar com isto. Este processo de luto acaba sendo banalizado, pois há o discurso na sociedade do ‘a vida continua, bola para frente’”, disse. Para Glória Maria, a complexidade de um momento como esse, em que a pessoa precisa elaborar muitas coisas, como digerir a morte de um companheiro, o casamento de um filho e uma mudança de sua casa própria para um quarto, por exemplo, não é valorizada.
As conclusões preliminares são a de que “o luto é um trabalho psíquico que é exigido frente a questões que necessitam da elaboração do trabalho psíquico, ou seja, de que é preciso um tratamento especial para que, na velhice, as pessoas possam superar suas perdas e, então, seguir em frente”.