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Seminário discute os rumos da Praia Vermelha

Tendo em vista o projeto do Plano Diretor UFRJ 2020 e os problemas recentes vividos no campus da Praia Vermelha, como o incêndio na Capela São Pedro de Alcântara, no Palácio Universitário, e a queda do telhado da Escola de Serviço Social (ESS), teve início na última segunda-feira (27/06), às 18h, o Seminário UFRJ em debate: A situação da Praia Vermelha. Até a próxima sexta-feira (30/06) serão realizados debates, oficinas de arte e um ato/show com apresentação do compositor Monarco.

Realizado no Auditório Professor Manoel Maurício de Albuquerque, no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, o evento foi aberto com a palestra A mercantilização da universidade, pelo professor Mauro Iasi, da ESS-UFRJ. Para o docente, o perigo da entrada de capital privado nas universidades é deixá-la refém do condicionamento de seus investimentos, sem liberdade para pesquisa, ensino e extensão. Também estiveram presentes Celinéia Paradela Ferreira, presidente da Associação de Moradores da Urca, além de representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata e da Associação de Docentes da UFRJ (Adufrj).

Pólo de resistência

De acordo com Mauro Iasi, a Educação não pode se tornar refém do mercado e necessita voltar à sua vocação de ser livre e acessível a todos. “A luta da sociedade é a luta da universidade”, disse o professor. Segundo Iasi, o capital privado na Educação resulta, na prática, em uma liberdade sob chantagem. “Vocês querem ficar na Praia Vermelha? Então, vivam sem manutenção e sob condições mínimas de convivência”, disse. De acordo com o professor da ESS-UFRJ, a universidade deve ser um pólo de resistência, para o desenvolvimento de um pensamento crítico. “É possível produzir um conhecimento para o povo dependendo do capital privado? Impossível”, afirmou.

Empresas investindo em centros de ensino fazem com que as pesquisas sejam direcionadas para setores onde estas desejam se expandir, assim como alguns cursos acabam recebendo mais investimentos do que outros, muito por sua própria natureza, a partir da lógica tecnicista. “Um curso de Engenharia é financiado pela Petrobras para fabricar, por exemplo, um tanque. Já estudar políticas público-privadas em Serviço Social acaba recebendo quase nada”, disse.

Segundo o professor, foi a partir da Ditadura Militar que a visão tecnocrática e voltada para o mercado de trabalho tomou conta das universidades brasileiras. “A ideia tecnicista de ensino é elitista e meritocrática. Onde se tem o vestibular como funil e os poucos que entram têm o prêmio do ensino superior”, analisou. Já com os anos 1970 e 1980, o Estado entra em crise e passa a ser considerado pesado e oneroso, sugando o mercado de recursos. Dá-se, então, espaço para a entrada das privatizações, cobrando que o Estado funcione como uma empresa. “É nesse momento que começa uma luta contra a universidade pública, necessitando-se a criação de uma eficácia para o ensino”, analisa. De acordo com Iasi, o ensino público seria um “ralo para onde iriam os recursos da União”.

Expansão da Educação como mercadoria

Com isso, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, a expansão das universidades se deu pela lógica do mercado, com expansão do ensino privado e a universidade pública sendo regida pela eficiência, sob um orçamento restrito e acessível para poucos. “O ensino se torna lucro e o número de cursos universitários dispara no Brasil”, recorda Iasi, ressaltando que “quanto maior a mercantilização, menor é a qualidade do ensino”.