A expansão das atividades acadêmicas da UFRJ em Macaé, com a instalação dos cursos de Medicina, Nutrição e Enfermagem, a partir do 2º semestre de 2009, ampliou a oferta de cursos públicos na região e trouxe novos desafios administrativos e curriculares à universidade.

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UFRJ em Macaé: desafios à formação médica

A expansão das atividades acadêmicas da UFRJ em Macaé, com a instalação dos cursos de Medicina, Nutrição e Enfermagem, a partir do 2º semestre de 2009, ampliou a oferta de cursos públicos na região e trouxe novos desafios administrativos e curriculares à universidade.

A expansão das atividades acadêmicas da UFRJ em Macaé, com a instalação dos cursos de Medicina, Nutrição e Enfermagem, a partir do 2º semestre de 2009, ampliou a oferta de cursos públicos na região e trouxe novos desafios administrativos e curriculares à universidade.

A implantação do curso de Medicina, o terceiro mais disputado no último concurso de acesso aos cursos de graduação (85 candidatos para uma vaga) é feita em meio a debates sobre  a formação médica no Brasil e já adota parâmetros preconizados pelo MEC nas Diretrizes  Curriculares Nacionais, definidas desde 2002.

O coordenador do Curso de Medicina de Macaé, professor Paulo Xavier Mendonça, assinala em reportagem que será publicada na edição de maio do Jornal da UFRJ, que as mudanças em curso apontam para o perfil de um futuro médico com visão mais humanista, crítica, reflexiva e comprometida com a cidadania. Elas também inauguram formas de gestão institucional em que a estrutura em departamentos é rompida, dando lugar a formas colegiadas mais amplas de decisão.

Paulo Mendonça observa que atualmente boa parte dos médicos dialoga com a doença e não com o doente. Perguntamos ao paciente o que ele está sentindo e não como ele está, como tem passado.  “O médico não trata mais o ‘seu’ José. Ele pouco conhece o ‘seu’ José. O que ele conhece bem é aquela entidade que ele dá nome: o ‘seu’ José tem um câncer tal… Ele trata o câncer de qualquer coisa e não o ‘seu’ José”, diz Mendonça, para afirmar em seguida: “O eixo dessa alteridade abstrata tem muito a ver com o processo de especialização precoce, com a fuga do que seria o médico como um grande cuidador. O médico que pratica clínica efetivamente se debruçando sobre o outro, e não idealizando uma relação com entidades chamadas doenças”.

Para ajudar a “reencarnar” o sujeito na relação médico-paciente, os estudantes, desde o primeiro período, estudam disciplinas como Saúde  da Comunidade, em que  realizam visitas a instituições escolares do município e da rede pública de saúde. Entre as unidades frequentadas está a Estratégia de Saúde da Família, posto que fica no bairro de Cajueiros e desenvolve uma série de programas do Ministério da Saúde, financiados pelo SUS. Mais de 1200 famílias totalizando cerca de 4 mil pessoas estão cadastradas e recebem visitas de agentes de saúde comunitários vinculados ao ESF. Agora, os estudantes da UFRJ também participam das visitas domiciliares ou acompanham, por exemplo, o atendimento a gestantes na clínica da Saúde da Mulher vivenciando uma prática médica com maior afetação mútua e compromisso com a realidade social local.

Outro diferencial do ensino médico em Macaé é realização de aulas conjuntas, reunindo estudantes de Enfermagem, Nutrição e Medicina numa mesma turma, colaborando para que, desde cedo, possam ocorrer práticas que alimentem o sentimento de equipe e a interdisciplinaridade.

Esta concepção mais transversal de gestão do conhecimento, a partir de assuntos e temáticas comuns aos três cursos, ajuda a enriquecer a formação, sem impedir que se afirmem as identidades profissionais, diz o professor Paulo Mendonça. Mas uma postura mais radical de mudança curricular ainda esbarra na tradicional separação entre os chamados ciclos básico e profissionalizante. Para ele, por exemplo, “desde o início do curso, na hora em que vou estudar o sistema digestivo, deveria estar vislumbrando também a clínica que está nele envolvida e investigando como as pessoas se constituem, como elas vivem e dão conta de seus problemas.”

Lamentando que a reforma curricular em Macaé ainda é, sob certos pontos de vista, conservadora, Paulo destaca outro exemplo: “só depois que eu estudar toda a Bioquímica é que  vou estudar as doenças metabólicas, perdendo a oportunidade de vê-las articuladamente, o que daria mais sentido à Bioquímica, tanto para os estudantes de Nutrição como para os de Enfermagem”.

Todo esse esforço de renovação do ensino e prática médica reforça a atitude pioneira da UFRJ, em parceria com a Prefeitura de Macaé, de formar médicos, enfermeiros e nutricionistas que poderão habilitar-se a atuar na região do norte fluminense, tão necessitada desses profissionais.