Aparentemente exportar um carro vale mais à pena do que exportar café. É esta a máxima que o professor Frederico Rocha, do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, pretende relativizar, com seu trabalho Maldição dos recursos naturais e externalidades advindas da exportação de recursos naturais: uma abordagem empírica, apresentado na última terça-feira (17/05), no IE-UFRJ.
Pós-doutor pela Universidade de Siena, na Itália, onde o estudo foi desenvolvido, Rocha se baseia na análise de 74 países, durante um período de 30 anos (1970–2000), auxiliado principalmente por dados do Banco Mundial. Segundo o professor, a ideia de que o setor primário não proporciona tantos benefícios como o industrial, perde “robustez” quando se vê que em apenas certos períodos do ano. Isso é uma verdade, abrindo então uma brecha para estudo.
Refutando a ideia de que apenas países em desenvolvimento são especializados em produção de recursos naturais, o professor utiliza exemplos como Austrália e Nova Zelândia. Para o docente, o problema das economias majoritariamente agrícolas é de administração dos bens. “Quem tem boas instituições e recursos naturais cresce mais”, verifica Com isso, Rocha ressalta que o subdesenvolvimento é gerado porque países ricos em matérias primas investem menos em educação por causa da menor demanda por trabalho qualificado.
“Se exportações crescem, não há maldição”
Com o objetivo de comparar o nível de “externalidades” (custos ou benefícios gerados por atividades de produção ou consumo) oriundos da exportação de produtos agrícolas em relação aos industriais, Rocha parte de duas hipóteses: países em constante expansão da produção de recursos naturais não sofrem de “doença holandesa” (conceito econômico que tenta explicar relação entre exploração de recursos naturais e declínio do setor manufatureiro); e lucros dos recursos naturais são semelhantes àqueles que emergem da indústria: exportações de recursos têm efeito positivo sobre o setor doméstico.
Comprovando essas hipóteses, o professor afirma que a relação custo/benefício proveniente das exportações dos recursos naturais são “pelo menos tão elevadas quanto aquelas que provêm da indústria de transformação”. Portanto, se as “exportações crescem, não há maldição”.