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Boca fechada não entra glúten

Nesta segunda reportagem da série sobre alergias alimentares vamos abordar de uma das alergias menos conhecidas, porém mais restritivas que existe. A alergia ao glúten, proteína encontrada principalmente em cereais, que afeta parte relativamente pequena da população é altamente restritiva e muda a vida da pessoa alérgica.

A professora Eliane Rosado, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC/UFRJ), falou ao Olhar Vital sobre este mal, que ainda é muito desconhecido no Brasil. “O glúten é uma proteína que, se ingerida por alguém alérgico a ela, causa inflamação no intestino, além de diarreia e dor abdominal. A intensidade da alergia varia de pessoa para pessoa, pode ser uma inflamação quase imperceptível ou então algo muito forte”, explica a nutricionista.

A alergia é progressiva e, segundo a professora Eliane, pode começar pequena e progredir para uma intensidade maior dependendo do contato do indivíduo com o glúten. Quanto à cura, ela não existe, mas, segundo Eliane Rosado, uma boa restrição alimentar combinada em certos casos com alguns medicamentos pode amenizar bastante o processo alérgico, tornando possível até mesmo um consumo pequeno da proteína. “O método mais ideal de amenizar a condição é a restrição alimentar mesmo. E depois de algum tempo a pessoa até se permite algum consumo do glúten, mesmo que muito pequeno”, explica a professora.

Essa restrição, segundo ela, é muito grande, e acaba mudando a vida do paciente, que se vê limitadíssimo na hora de escolher os alimentos. Além disso, o número de produtos que não contém glúten no mercado é baixíssimo, e não consegue atender à demanda da população alérgica à substância. “As pessoas acabam tendo que fazer os alimentos em casa, já que quase não existem no mercado com essas características” aponta a professora Eliane.

O principal componente alimentar a ser evitado pelos alérgicos ao glúten é o trigo. Segundo a professora isso torna muito difícil a restrição alimentar, principalmente para crianças. “Quando uma criança que tem alergia a glúten vai a uma festa, ela não pode comer quase nada. Salgadinhos, bolo, cachorro-quente, tudo tem glúten, e isso influencia até mesmo psicologicamente”, explica Eliane Rosado.

O glúten também é encontrado no centeio, na aveia e na cevada. As receitas de produtos sem essa substância, principal meio de manter uma restrição nutricional que não prejudique o alérgico, circulam entre as pessoas que têm a alergia e também entre mães, cujos filhos sofrem deste mal. Mas, segundo a professora, se houver uma amenização da alergia, depois de certo tempo, o indivíduo pode permitir-se a ingestão moderada de glúten.

Segundo especialistas quando o glúten chega ao intestino transforma-se em uma espécie de cola, grudando nas paredes intestinais. Com o passar do tempo, provoca saturação do aparelho digestivo, aumento da gordura na região abdominal, dores articulares, alergias cutâneas e depressão.

Avanços

Esta é uma doença que, por não ser comum, não tem muito respaldo popular. Mas mesmo assim houve avanços graças, segundo a professora, a associações de mães de filhos portadores da alergia. A conquista mais notável foi a instituição, em 2003, da lei que obriga as empresas alimentícias a escrever na embalagem do produto se ele contém ou não glúten. “Por mais que esse aviso ajude, ainda não há alimentos que não contenham glúten em quantidade e variedade suficientes. Essa doença acaba mudando a vida das pessoas de tal forma que afeta até mesmo a qualidade de vida delas”, finaliza Eliane Rosado.