Em palestra sobre a relação entre o conceito de "risco" na modernidade e a mídia, realizada no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) na última quarta-feira (04/05), Paulo Vaz, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, criticou a cobertura da imprensa em eventos extremos, como catástrofes naturais, atentados terroristas e grandes epidemias.

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A cobertura da mídia nas grandes tragédias

Em palestra sobre a relação entre o conceito de "risco" na modernidade e a mídia, realizada no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) na última quarta-feira (04/05), Paulo Vaz, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, criticou a cobertura da imprensa em eventos extremos, como catástrofes naturais, atentados terroristas e grandes epidemias.

Em palestra sobre a relação entre o conceito de "risco" na modernidade e a mídia, realizada no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) na última quarta-feira (04/05), Paulo Vaz, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, criticou a cobertura da imprensa em eventos extremos, como catástrofes naturais, atentados terroristas e grandes epidemias.

Para o docente, é comum se afirmar que o culpado dessas tragédias é o Estado, identificado como o outro, por não ter investido o suficiente em prevenção, negligenciando eventos que poderiam ser “controlados”.

Segundo Vaz, a ideia de que "os culpados são os outros" surge a partir do momento em que a administração de uma situação arriscada independe da vontade de um indivíduo. Como exemplo, o professor ressalta que fumar ou não e ter relações sexuais com ou sem proteção são atitudes que a pessoa sabe controlar. Nisso, o indivíduo é o único responsável por seus atos.

Por sua vez, quando o ocorrido é súbito e não parte de iniciativa própria, tende-se a culpar o desvio moral de alguns e a ineficiência de políticas de Estado. “Ninguém pode me privar de minhas ações alertando-me dos riscos”, afirma o mestre em Filosofia e doutor em Comunicação, ressaltando que isso é o que chama de direito ao risco. "Eu sou o responsável por mim. Portanto, o culpado sou eu e não o Estado. Mas não quero correr riscos que não escolhi, como levar uma bala perdida. No caso, o culpado é o Estado e não eu”, completa.

“Faz parte da elite brasileira culpar o Estado”

Utilizando como exemplo a cobertura do Jornal Nacional nas mortes ocasionadas pela dengue, Paulo Vaz afirma que a imprensa busca cientistas que deem depoimentos favoráveis a ideias pré-concebidas. Segundo ele, ainda que já se tenha afirmado que há casos onde o mosquito se prolifera até em esgotos, prejudicando a prevenção, dificilmente a imprensa dará espaço a eles, já que é mais noticiável afirmar que mortes poderiam ter sido evitadas e que houve descaso por parte das autoridades. “Faz parte da elite brasileira culpar o Estado e, ao mesmo tempo, se desculpar. Se uma empresa privada comete um erro, a mídia é capaz de punir o Estado por não ter punido a empresa. Temos que admitir que o sofrimento faz parte”, analisa.

Essa criminalização do Estado gera casos como o ocorrido no Brasil quando da vacinação contra o vírus Influenza A H1N1, mais conhecido como gripe suína. Para o professor, o Brasil foi o país onde houve a maior campanha de imunização contra a doença em razão do ano eleitoral. O Estado teria pensado não só na saúde da população, mas, sim, nos efeitos que mais mortes poderiam causar na candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República, em 2010.

Ainda que critique ferozmente a atuação dos veículos de comunicação, o professor ressalta que o maior problema são os usos da Ciência pelo senso comum. Com isso, tem-se a impressão de que tudo sempre poderia ter sido evitado, o que, para Paulo Vaz, seria um retorno à “bruxaria de Idade Média”. “Minhas críticas se dirigem à generalização do conceito de risco pela mídia e, consequentemente, pelas pessoas”, concluiu.