Gene recém-descoberto torna bactéria resistente a antibióticos
Grande descoberta da medicina, os antibióticos são muito usados no mundo todo. Essa ferramenta de combate a infecções bacterianas foi uma revolução, mas também trouxe problemas pelo uso indevido. O desenvolvimento de bactérias resistentes tem sido uma preocupação para especialistas em saúde coletiva.
A causa de tamanha preocupação é a presença de um gene. Especificamente, o gene NDM-1 encontrado em reservatórios de água na cidade de Nova Délhi, na Índia. O gene, que torna bactérias resistentes a todos os antibióticos conhecidos pelo homem, foi primeiramente identificado em 2007, por Timothy Walsh, da Universidade de Cardiff, Reino Unido, e foi encontrado este mês em um estudo da Faculdade de Medicina Jawaharlal Nehru, em Nova Délhi. O doutor Alberto Chebabo, do Serviço de Doenças Infecto Parasitárias (DIP) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) dá sua opinião sobre o NDM-1.
Segundo ele, o material genético, composto por DNA, faz com que as bactérias “infectadas” produzam enzimas que neutralizam a atividade dos antibióticos. “É muito difícil dizer isso, mas provavelmente o gene se originou de alguma mutação”, explica Alberto Chebabo.
Aumenta mais a preocupação porque ainda não há sequer uma pesquisa visando ao desenvolvimento de algum tipo de medicamento para combater bactérias dotadas do NDM-1. “Ainda estamos bem longe de desenvolver antibióticos efetivos para tratar bactérias com esse gene”, afirma o doutor Chebabo.
“O chamado turismo médico, que vêm de várias partes do mundo para fazer procedimentos cirúrgicos devido ao melhor custo em países emergentes, acaba promovendo o transporte das bactérias, já que nem sempre as condições para o procedimento cirúrgico são adequadas”, preocupa-se o especialista. Nesse caso, o professor diz que esses pacientes estão sendo tratados com um dos dois antibióticos que tem alguma efetividade contra o gene. Porém esses medicamentos, segundo Chebabo, além de bastante caros, tem alta toxicidade e provocam efeitos colaterais perceptíveis, além de terem uma efetividade contra o NDM-1 de 60 a 70%.
Perigo eminente
Já foram identificadas quatro bactérias “contaminadas” pelo gene, a Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Shigella boydii e a Vibrio cholerae que causam pneumonia e infecção alimentar, disenteria e cólera, respectivamente. Um dos temores dos cientistas, segundo o professor, é de que haja a disseminação do NDM-1 pelo mundo, e que outras bactérias, especialmente as causadoras de doenças, sejam “contaminadas” por ele.
“A transmissão do gene é fácil porque o seu material genético se encontra solto no citoplasma da bactéria. Então, a transferência do gene entre bactérias é por conjugação, que é um processo comum”, esclarece o professor Alberto Chebabo.
Segundo o professor, os métodos para evitar a propagação do gene por meio das bactérias são simples. A higienização das mãos é algo vital, já que a contaminação das bactérias portadoras do gene é oral e fecal. Outra ação vital, diz Alberto Chebabo, é a vigilância constante dos hospitais e sistemas de saúde de todos os países, para que se houver algum caso o mesmo ser isolado para evitar uma maior contaminação.