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Tecnologia da Coppe ajuda no restauro de obras do MNBA

Depois de três anos fechada para restauro de seu acervo, a galeria século XIX do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), maior do gênero no Brasil, acaba de ser reaberta. Um dos grandes responsáveis pelo êxito dos trabalhos é um aparelho portátil desenvolvido nos laboratórios da Coppe por Cristiane Calza, do Programa de Engenharia Nuclear. A pesquisadora trabalhou com obras da importância de “A Primeira Missa no Brasil”, de Victor Meirelles, e “Recompensa de São Sebastião”, de Eliseu Visconti, dois dos pintores preferidos de Dom Pedro II. Dentre as 200 obras restauradas, 30 passaram pela análise da pesquisadora.

O equipamento, criado a partir de conhecimentos combinados de Química, Física, Engenharia Nuclear e História da  Arte, consiste em um sistema portátil de fluorescência de raios-x. Os raios bombardeiam os átomos das tintas utilizadas na obra, e após um processo conhecido como “efeito fotoelétrico”, esses átomos emitem de volta outros raios-x característicos. Esses últimos são captados por um detector e convertidos em gráficos, que apresentam picos em determinados valores de energia, exibidos na tela de um computador. A interpretação dessas informações revela qual elemento químico está presente em cada pigmento. A partir daí, é possível saber qual tipo de tinta foi usado originalmente.

Um dos grandes atrativos do aparelho é sua mobilidade, que elimina a dispendiosa necessidade de transporte da obra, e possibilita resultados precisos na análise de superfícies planas, curvas e tridimensionais. A criação de Cristiane Calza tem ainda a vantagem de analisar as obras sem usar técnicas invasivas, ao contrário de algumas técnicas convencionais que exigem a retirada de fragmentos da peça para a análise. A pesquisadora dispõe de uma extensa tabela, que ela mesma elaborou, na qual estão classificados diversos pigmentos com sua cor característica, composição química e o período histórico em que eram utilizados. Essas informações permitem estimar a época em que a obra foi feita e também identificar eventuais restaurações anteriores ou mesmo falsificações. A tecnologia foi empregada também em importantes empreitadas, como o restauro da imagem de São Sebastião do Rio de Janeiro, considerada a obra de arte sacra mais antiga do Brasil, e do Theatro Municipal.