No dia do Professor, um poeta foi homenageado na UFRJ. Nesta sexta-feira, 15 de outubro, a instituição outorgou ao escritor Ferreira Gullar o título de Doutor Honoris Causa. Em cerimônia emocionada, realizada no saguão da Biblioteca José de Alencar, na Faculdade de Letras (UFRJ), autoridades da universidade, funcionários e estudantes se reuniram para celebrar um dos fundadores do movimento Neoconcreto.
Aos 80 anos e com sua sobriedade típica, Ferreira Gullar narrou episódios curiosos de sua infância e juventude, como quando, depois de obter nota nove em uma redação, decidiu dedicar dois anos ao estudo da Gramática para não cometer erros de Português. Esse fato foi o que aproximou Gullar de importantes expoentes da Literatura Portuguesa, como Camões, por exemplo. “Se alguém tivesse dito ao pequeno Zeca, aquele que roubava copos e juntava metal velho no Maranhão, que ele seria doutor, ele não teria acreditado ou não teria entendido, porque nunca tinha ouvido falar em universidades”, disse.
Bem humorado, o poeta provocou gargalhadas no público presente ao atribuir ao acaso a responsabilidade de ter se tornado “doutor”. “Tudo que aconteceu poderia não ter acontecido. Se estou recebendo este título é porque o que fiz como escritor e cidadão foi relevante. Sem o imprevisível a vida seria mais segura, mas teria menos graça”, destacou.
O reitor Aloisio Teixeira enfatizou, durante discurso, que a outorga do título de Doutor Honoris Causa para o poeta foi um ato de justiça. “Essa cerimônia é o reconhecimento de que, por mais importante que o conhecimento tecnológico e científico seja, ele não muda o mundo. A transformação do mundo está aqui, no terreno das humanidades. A UFRJ se sente honrada de que o poeta Ferreira Gullar aceite esta homenagem”, assegurou.
O homem por trás do poeta
Ferreira Gullar ou José Ribamar Ferreira nasceu em 1930, em São Luís do Maranhão. Aos 19 anos, publicou o primeiro livro, intitulado Um pouco acima do chão (1949). Dez anos depois, escreveu o Manifesto neoconcreto, um dos marcos da poesia brasileira contemporânea. A luta corporal, de 1954, e Dentro da noite veloz, de 1975, são duas das obras mais ressonantes do poeta.
Na década de 1960, durante a Ditadura Militar, se notabilizou ao participar da criação do grupo teatral “Opinião” e erguer a voz contra o poder opressor. Foi preso e exilado. Morou na Rússia, no Chile, no Peru e na Argentina. Retornando ao Brasil, em 1977, voltou à prisão, onde foi interrogado por 72 horas ininterruptas.
Escreveu mais de 50 obras, entre livros, poemas e ensaios. Sua literatura foi traduzida e publicada em diversos países. A inventividade metafórica bem como a mescla lexical e os cortes cinematográficos de seus textos atraíram admiradores de todo o mundo. “Há muitos ‘gullares’ num Gullar. Plural que se deve não só à sua obra, mas que está na diversidade de cada um de seus discursos. O desejo de conhecer, de transpor barreiras e de modificar-se com o conhecimento é comum a este poeta”, afirmou Antônio Carlos Secchin, professor titular de Literatura Brasileira, especialista em Ferreira Gullar e responsável pela indicação do título ao poeta.
O título
O título Honoris Causa é concedido à personalidade, brasileira ou estrangeira, que tenha se distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos. Assim como Ferreira Gullar, o escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto também foi agraciado, há 20 anos, pela UFRJ com este título. “Nenhum título honorífico faz sentido se os estudantes não o fizerem vivo. Não adianta dar ao escritor um papel e deixar seus livros nas prateleiras das bibliotecas. Na Letras, estudantes e professores mantêm viva a poesia de Gullar”, concluiu Eleonora Ziller, diretora da Faculdade de Letras.
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