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“Ser Feliz Hoje”: mesa de encerramento debate consumo de espetáculos e culto ao corpo

 Na última quinta-feira (26/8), o seminário internacional “Ser Feliz Hoje: Reflexões sobre o Imperativo da Felicidade” realizou sua última mesa de discussão na parte da tarde, e lançou a coletânea Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade (Editora FGV). Realizado pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, com o apoio do programa Globo Universidade, o evento aconteceu na Casa da Ciência da UFRJ.

Para compor a mesa, coordenada por Márcio Gonçalves, professor da Faculdade de Comunicação Social (FCS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), estiveram presentes Christian Ferrer, professor do Curso de Ciências da Comunicação da Universidade de Buenos Aires (UBA) e pesquisador do Instituto de Pesquisa Gino Germani, Paula Sibilia, professora do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), e João Freire Filho, coordenador do PPGCOM da ECO-UFRJ e organizador do seminário.

Christian Ferrer analisou o consumo de espetáculos e a “felicidade compulsória” que permeiam a vida moderna. De acordo com o docente, “a felicidade se tornou uma obrigação contemporânea. O que antes era associado a práticas virtuosas, hoje se tornou a necessidade de exibir, mas não necessariamente possuir, satisfação e uma vida emocional plena”. O pesquisador acrescentou que isso se enquadra no contexto da cultura do espetáculo que vivemos hoje, que propõe uma representação idílica da realidade.

 “O ser humano é um animal paradoxal, infeliz e vulnerável, que contradiz seus instintos e tende a cair com frequência em situações sofridas e dolorosas”, definiu Ferrer. O professor comentou ainda que, na modernidade, surgem os mais variados tipos de instituições que têm o intuito de evitar, ou, ao menos apaziguar, o sofrimento humano.

O fenômeno do culto ao corpo

Paula Sibilia destacou o paradoxo que envolve o culto ao corpo no contexto da felicidade compulsória. “O corpo humano se tornou uma imagem a ser trabalhada, no qual defeitos e irregularidades devem ser corrigidos, senão apagados”, disse. Na tentativa de livrar o corpo da imperfeição, a docente analisou que “aspectos físicos e humanos passam a ser censurados com argumentos morais. A relação com a materialidade corporal, a obsessão pelas boas formas físicas e, ainda, a ânsia por encarnar na própria pele a perfeição, acaba por punir, privar e sacrificar a carne”.

Sibilia comentou ainda os aspectos do corpo sob o ponto de vista da ciência. “A tecnociência, em parceria com a mídia, investe boa parte de seus esforços, de forma eficaz, em formas de adequar uma matéria orgânica inerentemente defeituosa ao modelo de beleza padrão”, observou.

A professora concluiu que “na modernidade a felicidade tem de estar visível no próprio corpo, como uma vitrine do que conseguimos ser, apesar de tudo conduzir para a degeneração dessa imagem”.

João Freire Filho, cuja pesquisa diz respeito ao paradigma da felicidade como um projeto individual, e não como um estado de exceção, explicou que “a pesquisa explora o paradigma que concebe a felicidade como resultado de uma gestão das emoções e pensamentos positivos, isto é, cada um é responsável pelo seu próprio estado de felicidade, tema muito explorado pelo mercado de autoajuda”. Freire analisou que “a tristeza, que outrora se relacionava a um momento de criação e reflexão, hoje foi destituída de qualquer significado positivo, devendo ser erradicada e superada”.

O docente encerrou o evento explicando a escolha do nome do seminário. “O ‘imperativo da felicidade’ está na obrigação, no dever moral, de que o ser humano de hoje deve ser constantemente feliz, expansivo, sociável, comunicativo, dinâmico e proativo, irradiando confiança e um otimismo incondicional. Qualquer manifestação de melancolia, desajuste, inadequação, desequilíbrio, timidez, debilitação ou fracasso são moralmente censurados e devem ser superados sob a ótica da sociedade – ‘trata-se da tirania da positividade’”, concluiu.