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Ciclo de debates com cineastas no Fórum debate “o personagem contemporâneo”

 Dando continuidade ao ciclo de debates proposto na II Semana dos Realizadores, promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ, os convidados da última quinta-feira (09/09) debateram o tema “O Personagem Contemporâneo: opacidade e construção de personas cinematográficas, na ficção e no documentário”. Na mesa, que teve mediação de Denilson Lopes, estavam presentes os realizadores Gustavo Beck, Fellipe Barbosa e Fabiano de Souza, que têm filmes exibidos na mostra.

Através de exemplos práticos, os convidados debateram a questão da construção do personagem no processo de criação e realização do filme. De acordo com os palestrantes, o limite entre pessoa e personagem é pouco definido e, portanto, tal construção é um processo complexo, que sofre a influencia de determinados fatores e que varia de acordo com a proposta: documentário ou ficção.

No filme A Última Estrada da Praia, Fabiano de Souza trabalhou com a adaptação livre do livro O Louco do Cati, de Dyonélio Machado, criando um tipo excêntrico e enigmático, resultado da unificação de personagens de vários contos. Enquanto o diretor caracteriza os personagens de acordo com sua visão de mundo, a construção se completa em outros âmbitos. "No trabalho de ensaio criava-se um estudo dos personagens, que não tinham passado nem futuro determinados, e que até então não conhecíamos bem”, afirmou o diretor, segundo quem, as características dos personagens foram se definindo ao longo do processo.

No documentário surge a questão da construção de modo articulado entre diretor e personagem. Fellipe Barbosa, realizador de Laura, tinha a preocupação de retratar a personagem – segundo ele, “uma figura mitológica na noite de Nova Iorque” – de modo a dramatizar a narrativa. No entanto, a partir do momento em que ele abre espaço para que Laura se mostre da maneira como quer ser vista, a personagem intervém diretamente no processo de criação.

Durante a realização, o interesse do diretor pela personagem transforma-se, ainda, em motor da narrativa, e Barbosa transformar-se também personagem. “Minha presença confere humanidade ao filme e sem ela, a construção pareceria ter sido feita a partir de um olhar antropológico. A transformação ficcional da relação existente entre eles e a criação de situações de causa e consequência na narrativa fornece novos elementos para a construção dos personagens", disse.

A abertura de espaço para que o personagem se construa (além do olhar do realizador) é feita por outro processo em Chantal Akerman, de cá, dirigido por Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira. Na entrevista, a artista pode construir suas respostas de acordo com a maneira como quer ser vista, e é por esse viés que os diretores se aproximam dela. A produção utiliza duas câmeras de modo a desvendar o personagem, ciente de que ela só poderia se construir para uma câmera por vez. “A construção evidente da maneira como quer ser vista é o que mais nos mostra sobre ela”, define o realizador.