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“O efeito da desnutrição multifatorial sobre a geração de lipídios bioativos no tecido renal”

Este é o título da tese de mestrado orientada pelo professor Marcelo Einicker Lamas (IBCCF) e defendida pela aluna de biofísica Luzia da Silva Sampaio. A apresentação acontece na próxima quinta-feira (19/08), às 14h, na sala G1-009 do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), localizado no Centro de Ciências da Saúde (CCS), Cidade Universitária.

Luzia considera que a desnutrição decorre do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes, sendo causada por diversos fatores. “Constituindo um sério problema de saúde pública, uma vez que quadros de desnutrição crônica, principalmente aqueles iniciados nas fases de vida intrauterina, perinatal e na infância são responsáveis pela geração de doenças crônicas na vida adulta”, relata a mestranda.

No Brasil, a região nordeste é aquela que apresenta os mais elevados graus de desnutrição, e a Dieta Básica Regional (DBR) é uma ferramenta capaz de gerar, em modelo animal, as mesmas alterações fisiológicas, bioquímicas e genéticas desenvolvidas a partir da condição de desnutrição, presente naquela população.

“Diversos trabalhos utilizando o modelo DBR mostraram que ela afeta em diferentes níveis o tecido renal, alterando a hemodinâmica e a própria morfologia glomerular. Induzindo a geração de hipertensão arterial, além de alterações nas atividades e expressão de transportadores renais de Na+(Na+-K+ATPase e Na+ATPase), que em condições normais sofrem modulação através da ação de lipídios bioativos. Dessa maneira, o trabalho busca avaliar a formação de lipídios bioativos no tecido renal de animais com desnutrição multifatorial (DBR)”, informa Luzia.

Segundo ela, foram utilizados ratos Wistar machos, separados em dois grupos experimentais, controle e desnutrido (DBR). “Nossos resultados mostram uma menor formação do fosfatidilinositol-4-fosfato (PtdIns(4)P) nos animais DBR quando comparado ao grupo controle (5,1 ± 0,6 vs. 7,9 ± 0,7 pmol PtdIns(4)P.mg-1.mim-1, P < 0,05), mesmo com a adição de esfingosina, um modulador positivo da fosfatidilinositol-4 cinase (PtdIns-4K) (15 ± 4 vs. 4,5 ± 0,7 pmol PtdIns(4)P.mg1.mim1, controle e DBR respectivamente, P < 0,05), mostrando uma quebra na sinalização cruzada entre a esfingosina cinase e a PtdIns-4K. Em relação à atividade da diacilglicerol cinase e da ceramida cinase, nosso trabalho mostrou aumento na disponibilidade de diacilglicerol e ceramida, no grupo DBR, através do aumento na formação de ácido fosfatídico (PA) (1,9 ± 0,2 vs. 3,6 ± 0,6 pmol PA.mg-1.mim-1, P < 0,05) e ceramida-1-fosfato (C1P) (19,4 ± 0,7 vs. 21,6 ± 0,5 fmol C1P.mg-1.mim-1, P < 0,05)”, observa Luzia.

“Em relação à formação de ácido lisofosfatídico (LPA)” ¯ continua a mestranda ¯ “os resultados mostram uma redução na atividade da fosfolipase A2 no modelo DBR (53 ± 4 vs. 31 ± 4 fmol LPA.mg-1.mim-1, P < 0,05). Também foi observada diminuição na quantidade de colesterol membranar no grupo DBR (0,083 ± 0,005 vs. 0,059 ± 0,006 mg colesterol/ mg proteína, P < 0,05) e na expressão da PMCA (1,170 ± 0,003 vs. 0,9 ± 0,1 unidades densitométricas, controle e DBR respectivamente, P < 0,05).”

Os resultados mostram, pela primeira vez, alterações na geração de lipídios bioativos no tecido renal, devido à condição de desnutrição. Indicando que diminuição na expressão da PMCA devido à redução do colesterol de membrana parece ser a responsável pelas alterações nas atividades das proteínas geradores de lipídios bioativos, uma vez que com a redução da PMCA provavelmente exista uma elevação dos níveis de Ca2+ intracelular.