Reportagem mencionava apenas aspectos negativos da instituição
Por meio de cartas, professores da UFRJ reagiram à matéria publicada no jornal O Globo de 11/7/2010, que questionava a infraestrutura de ensino oferecida pela UFRJ. Intitulada “Ensino superior, mas nem tanto”, a reportagem mencionava apenas aspectos negativos da instituição e ignorava a relevância das transformações em curso, decorrentes dos novos investimentos. Contudo, apesar das manifestações dos leitores, o jornal ainda não se mostrou aberto ao debate e à exposição da pluralidade de pontos de vista que podem caracterizar um Jornalismo sério e de qualidade.
O texto publicado em O Globo destacava problemas de infraestrutura da UFRJ, como a falta ou obsolescência de materiais. Além disso, dirigia crítica ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), como o responsável por uma expansão desordenada da universidade, que comprometeria a qualidade dos cursos. E ainda, apresentava dados acerca da violência na Cidade Universitária, e comparava a extensão do campus aos bairros de Ipanema e Leblon, contrastando o nível de policiamento nos dois locais.
A exploração exclusiva de aspectos negativos surpreendeu Leda dos Reis Castilho, professora do Programa de Engenharia Química do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), que submeteu carta à redação de O Globo, logo após a publicação da matéria. “Vivemos hoje uma realidade completamente diferente da realidade da década de 1990. Mesmo naquela época, a qualidade do ensino nunca caiu, embora não houvesse verba e o Governo Federal não investisse nas universidades. Hoje, vivemos uma revolução dentro da UFRJ, as pessoas sentem a diferença”, afirmou Leda em entrevista ao Portal da UFRJ.
Segundo ela, o texto do jornal carece de multiplicidade de fontes, pois se baseia apenas no estudo da Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj-Seção Sindical), não acompanhando o momento atual da universidade, caracterizado pela contratação de professores, construção de prédios novos e reforma dos antigos, aprimoramento dos serviços de segurança, entre outros. Em relação ao Reuni, Leda Castilho afirma que a crítica é infundada: “O programa Reuni prevê adesão voluntária. O que ele oferece é uma contrapartida: se houver aumento de vagas, o Ministério da Educação oferecerá verbas e professores para garantir o comprometimento com a qualidade. Essa discussão foi travada em cada unidade acadêmica da universidade, algumas disseram não, muitas disseram sim. E as unidades que falaram sim estão recebendo os investimentos em novos professores e obras desde o ano passado.”
Ivana Bentes, professora e diretora da Escola de Comunicação (ECO), em carta aberta ao jornal, também argumenta: “uma matéria como essa fere o que entendemos como Jornalismo crítico, não editorializado, com fontes diversas, que mostra os ’dois’ lados (e os diferentes lados) da questão.” Para Ricardo de Andrade Medronho, professor da Escola de Química (EQ), “ela representa tudo o que não se espera encontrar em um jornal da qualidade de O Globo.”
Leia abaixo, a carta enviada a O Globo por Leda Castilho e que não foi publicada:
“Ilmo. Sr. Editor d`O Globo:
Foi com surpresa e indignação que li a reportagem (com chamada de 1ª página) de domingo, 11/7/10, intitulada "Ensino superior, mas nem tanto". A matéria toma exemplos isolados para destacar apenas aspectos negativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ignorando o excelente desempenho apresentado pelos seus egressos em concursos e em provas nacionais como o ENADE, desempenho este confirmado pela preferência do mercado de trabalho por profissionais formados na UFRJ. Mostrando números oriundos de uma única fonte, a matéria ignora dados públicos disponíveis no site da PR3-UFRJ que demonstram que, em 2009, foram iniciadas e/ou licitadas inúmeras obras (salas de aula, restaurantes universitários, bibliotecas etc.), financiadas pelo programa do governo federal REUNI, de expansão das universidades federais. A matéria ignora, ainda, que a adesão ao referido programa foi voluntária e amplamente discutida nos colegiados de cada uma das faculdades envolvidas. Nenhuma decisão de aumento de vagas foi tomada de forma irresponsável. A contratação, somente em 2010, de 500 novos professores e o aumento em cerca de 10 vezes (de 3,6 para 34,6 milhões de reais), entre 2003 e 2008, das verbas de investimento repassadas pelo governo federal à UFRJ são uma prova disso.
O número de vagas nas universidades federais aproximadamente dobrou entre 2003 e 2008, como diz a matéria. É fato notório que, em empreendimentos de qualquer tipo, aumentos de tamanho/quantidade resultam em ganhos de escala. Portanto, considerando que as universidades federais agora atendem ao dobro do número de alunos, com manutenção do valor por aluno investido pelo MEC (alteração de apenas 3,8%, de R$ 15.341 para R$ 14.763), chega-se a uma conclusão diferente daquela sugerida pela matéria: levando-se em conta o ganho de escala, certamente as condições de financiamento hoje são melhores do que antes.
O campus da Ilha do Fundão tem fluxo diário de pessoas aproximadamente igual ao dobro da população da Cidade de Deus e área ocupada similar à de Ipanema e Leblon juntos. Se os índices de criminalidade mencionados na matéria forem comparados àqueles registrados nos dois nobres bairros da cidade, certamente a conclusão será de que é mais seguro transitar pelo Fundão do que por Ipanema. Por que não fazer uma matéria levantando tais dados?
Nos últimos anos, vêm se repetindo, sempre às vésperas das inscrições no vestibular, matérias negativas sobre a UFRJ n`O Globo. Por que o jornal não publica matérias extensas sobre a UFRJ também em outras épocas do ano? Por que o jornal não relata a preferência do mercado de trabalho por profissionais formados na UFRJ?
O MEC e a UFRJ estão tomando ações concretas com o objetivo de que nossa universidade continue oferecendo um ensino de alto padrão, a um número ainda maior de brasileiros. O campus da Ilha do Fundão está passando por uma revolução que o transformará, ao longo da década que ora se inicia, em uma cidade universitária de dar inveja às universidades dos países mais ricos.
Eu gostaria de desafiar O Globo a fazer uma matéria sobre as obras atualmente em andamento na UFRJ, dando maiores informações ao grande público sobre o Plano Diretor UFRJ 2020 (www.ufrj.br).
Se a UFRJ, na década de 1990, soube manter a excelência de seu ensino mesmo frente ao descaso e ao abandono de então, por parte do governo federal, certamente não será nesta década, marcada por muitos novos investimentos, mais verbas e novos docentes, que deixaremos de oferecer um ensino superior do mais alto padrão. E certamente seremos capazes de fazê-lo para um número ainda maior de brasileiros.
Atenciosamente,
Profa. Dra. Leda R. Castilho
COPPE/UFRJ