Conselheiros do CFCH debatem propostas da Reitoria para democratizar o acesso à UFRJ e conhecem estatísticas sobre a precaridade do Ensino Médio no país.
O Conselho de Coordenação do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) debateu, na última segunda (12/07), as políticas de acesso à universidade. Além dos representantes dos membros do Conselho, estiveram presentes Luiz Otávio Langlois, coordenador da Comissão de Acesso aos Cursos de Graduação da UFRJ, e Ana Maria Ribeiro, presidente da Comissão de Acesso do Conselho de Ensino de Graduação (CEG). Os presentes analisaram a proposta da Reitoria para democratizar o acesso ao ensino superior na UFRJ. Entre as medidas estão a distribuição de 50% do total de vagas oferecidas para candidatos aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), vinculado ao Ministério da Educação (MEC); sendo destas, 20% (ou 10% do total) destinadas a estudantes cuja renda familiar per capita não exceda um salário mínimo. As demais 50% das vagas serão preenchidas por meio de concurso de acesso próprio da UFRJ. Leia mais aqui.
Ana Maria Ribeiro apresentou o trabalho realizado pela Comissão de Acesso do CEG, no qual constam dados sobre o acesso ao ensino superior nos últimos anos, o histórico desde os anos 1980, quando a UFRJ passou a adotar um método próprio de seleção, e propostas para o processo seletivo 2011. Para ela, a adoção de provas discursivas proporcionou o desmonte, no Rio, da “indústria dos cursinhos pré-vestibulares” e proporcionou “uma mudança positiva, segundo os especialistas e professores da rede de ensino”.
De acordo com o documento exposto pela presidente da comissão do CEG, a proposta da Reitoria:
– fere o princípio da autonomia universitária ao transferir para o exame do MEC a responsabilidade pelo processo seletivo;
– ao mudar o modelo de provas discursivas para o de múltipla escolha, há o risco de “uma grande perda de qualidade do ensino no estado”;
– pode reincidir no erro cometido no ano passado, quando a mudança tardia no processo seletivo, com poucos meses de antecedência para a realização das provas, trouxe “grandes aflições que não devem ser repetidas”;
– ao adotar o modelo Sisu-MEC, transforma a escolha dos cursos em “uma loteria”, em que jovens simulam suas opções, em função das notas atribuídas no Enem;
– ao facilitar as inscrições através da internet, privilegia estudantes oriundos de estados com maior investimento no Ensino Médio, com maior poder aquisitivo e, consequentemente, maior possibilidades de conquistar mais vagas;
– ao adotar a prova do Enem como processo seletivo, fragilizam-se as condições de segurança necessárias para a realização dos exames.
Ensino Médio
Entre os números apresentados do Censo da Educação Básica, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em 2009, Ana Maria Ribeiro citou o índice segundo o qual o número de crianças e jovens em idade para cursar o ensino fundamental é de 4,2 milhões, em todo o Brasil. No entanto, apenas 3,1 milhões chegam até a 9ª série. “O que representa mais de 1 milhão de crianças fora das escolas”, esclarece. Já no ensino médio, a situação é ainda mais grave: deste mesmo total (4,2 milhões), apenas 2,2 milhões de alunos estão matriculadas em alguma escola do país e somente 1,7 milhões concluem os três anos de escolaridade. “O que representa 2,5 de jovens sem diploma e dois milhões sem sequer frequentar os bancos escolares”, analisa a representante do CEG.
Dos 2,2 milhões de estudantes matriculados no Ensino Médio, 40% estão presentes na região sudeste, mas o estado do Rio de Janeiro aparece em último lugar, com apenas 7,28% ou 143 mil jovens matriculados. As estatísticas são ainda mais alarmantes quando são contabilizados os estudantes concluintes do ensino médio: apenas 110 mil em todo o território fluminense.
Ana Maria Ribeiro apresentou ainda os números de vagas oferecidas no Ensino Superior em todo o país: 2,9 milhões, em 2008, o que representa um excedente de 1,2 milhões em relação ao total de estudantes que conseguiram graduar-se no Ensino Médio. Destas, apenas 1,5 milhões foram preenchidas. “Por esses números, podemos constatar que o gargalo está, efetivamente, no Ensino Médio”, afirma.
Na UFRJ
No âmbito da UFRJ, as medidas de ampliação de acesso, nos dez últimos anos, aumentaram de 4,2 milhões para mais de 8,6 milhões de vagas na UFRJ. O último Concurso de Acesso aos Cursos de Graduação, em 2009, teve 5,1 milhões de inscritos. No entanto, entre as 116 opções de cursos, 52,34% se concentraram entre sete deles: Engenharia, Medicina, Direito, Comunicação Social, Administração, Psicologia e Engenharia Química.
Sobre o perfil dos estudantes, dos 7.869 estudantes classificados no processo seletivo da UFRJ, 64% são moradores da cidade do Rio de Janeiro, 71% cursaram o atual Ensino Médio, 59% o frequentaram integralmente em escola particular, 47% não frequentaram cursinho pré-vestibular, 23% são oriundos de famílias com renda mensal de cinco a dez salários mínimos, 53% têm acesso à internet apenas em casa e 61% se declararam de cor branca.
Conselheiros
Para Marcos Jardim, diretor do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, não basta facilitar o acesso à universidade, mas, também, criar condições de estudo para o discente. “Temos que ter bibliotecas nos finais de semana, transporte, bandejões etc. É preciso saber por que os alunos se evadem”, questionou o docente que criticou ainda o que considera a “formação elitizada dos cursos”.
Já Celina Maria de Souza Costa, diretora do Colégio de Aplicação, defendeu a adoção de cotas para a escola pública. “Se estamos constando que o gargalo está no Ensino Médio, devemos beneficiar esse público. Não o aluno que estuda os 11 anos do Ensino Básico no CAp-UFRJ, mas aquele que está nas demais escolas da rede pública”, argumentou. “Eu não discuto a meritocracia em si, mas, sim, que ela coloca desiguais em para competir como se fossem iguais”, completou, no que foi seguida por Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação (ECO). “Esse discurso da meritocracia está invertido. Nós temos é que aprovar os piores alunos e transformá-los nos melhores. Esse deveria ser o nosso papel”, comentou.
Marcelo Correa e Castro, decano do CFCH, sugeriu uma discussão sobre as causas que levam à autoexclusão. “A universidade é algo muito distante para a grande maioria dos jovens deste país. Nós deveríamos fazer uma reflexão sobre os motivos que levam a ela”, afirmou. O decano lembrou ainda que nesta sexta (16/07), acontece, no Auditório Professor Manoel Maurício, às 14h, mais um debate sobre as políticas de acesso à universidade. “É importante que a decisão sobre as novas formas de acesso sejam resultado de uma construção coletiva”, finalizou.