O Centro Acadêmico de Pedagogia Professor Paulo Freire (CAPPF), com o apoio da Faculdade de Educação e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, deu início, na última segunda-feira (07/06), à “XI Semana de Educação”. O evento segue até o dia 11/6 com seminários, shows, oficinas, exibição de filmes e outras atividades culturais.
A mesa de abertura tratou de questões que envolvem as políticas públicas educacionais no contexto das desigualdades sociais, no Auditório Professor Manoel Maurício de Albuquerque, do CFCH-UFRJ. A mesa teve a presença de Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ e membro da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj) e Adolpho Ferreira, professor da rede municipal e membro do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe).
Ana Maria Monteiro, diretora da FE-UFRJ e Marcelo Corrêa e Castro, decano do CFCH, abriram o evento. A diretora destacou o valor daquele espaço de diálogo entre estudantes de pedagogia e professores. Corrêa e Castro ressaltou a importância de um evento organizado pelos próprios alunos, reforçado posteriormente por Roberto Leher. “Sob o ponto de vista de uma revitalização da universidade, este protagonismo estudantil é fundamental”, comentou.
Os palestrantes expuseram suas idéias seguidos por dois blocos de perguntas que trataram de temas diversos como as cotas no Ensino Superior, a terceirização das creches, as mudanças sociais a partir do voto, entre outras. Roberto Leher partiu da preposição de que “para se pensar a Educação de um país, deve-se olhar para a sua Economia”. Segundo o docente, a economia da América Latina é permeada por disparidades regionais.
Leher alertou ainda para a alta taxa de analfabetismo do Brasil, onde 10% da população é analfabeta. O docente acrescentou ainda a problemática do analfabetismo funcional: 22% dos brasileiros não tem capacidade de ler e interpretar, observando que “a simples alfabetização sequer foi universalizada no Brasil”.
Leher destacou também que a escolaridade média do país é de sete anos, isto é, abaixo do Ensino Médio. Mesmo assim, o professor acrescentou que essa média não reflete a realidade se forem levadas em conta políticas públicas como a aprovação automática, que supostamente “elevam a escolaridade do país”.
Leher fez um breve panorama da taxa de escolaridade no Brasil, dos anos 1960 e 1970, em que houve uma expansão do percentual de brasileiros que concluem o Ensino Médio, passando pelos anos 1980, em que a taxa se manteve estagnada, anos 1990, em que aumentou devido às políticas públicas de “aprovação automática”, até a década de 2000, que, no caso do Ensino Médio, apresentou uma taxa decrescente.
O professor também analisou a concepção de escolas minimalistas como uma via prática, rápida e superficial. “O professor recebe alguns recursos didáticos para executar tarefas que outra esfera elaborou, geralmente vinculada à organizações econômicas que, cada vez mais, definem qual é a tarefa do professor, se apropriando da educação pública”.
Adolpho Ferreira observou a importância de discutir as políticas públicas na Educação. Segundo o professor, o montante de verbas que se destina à Educação não chega a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o que reflete a situação precária na qual a maioria das escolas se encontra. O membro do Sepe acrescentou que raramente são construídas escolas (tanto municipais quanto estaduais), apesar do contingente de pessoas que ingressam nelas ser cada vez maior.
A superlotação das salas, segundo Ferreira, prejudica muito o trabalho pedagógico e que as políticas públicas têm se voltado nos últimos anos para projetos que não dão retorno. “Informatização, ar-condicionado nas salas de aula, microfones e laptops para professores são apenas alguns exemplos de projetos em que se gasta muito dinheiro e o retorno não é grande. São projetos voltados para transferir dinheiro público para empresas privadas”, declarou.
O professor enfatiza a importância dos educadores se organizarem, pois, do contrário, essas políticas não vão encontrar resistência. Ferreira também colocou a questão do salário digno, a partir do qual o docente possa ter apenas uma jornada de trabalho, como fator importante para o planejamento, a motivação e o rendimento do educador. “A luta pela educação não se dá apenas dentro da sala de aula, mas também fora”, concluiu, citando Paulo Freire.