“O ser humano é um ser migrante por natureza. Um caleidoscópio de identidades”. Com esta frase o mediador Mohammed ElHajji deu o tom do debate “Anistia Migratória: Visto aos invisíveis”, que aconteceu no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque, na última segunda (31/05). Para compor a mesa, o professor Helion Póvoa Neto, da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, Renato Zerbini, representante do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Paulo Illes, do Centro de Apoio ao Migrante (Cami) e Scyla Huang Xun, presidente da Câmara de intercâmbio Cultural Brasil-China.
O professor Helion Póvoa observou que, no Brasil, a visibilidade é vinculada a uma origem histórica de deslocamento de europeus no contexto do “embranquecimento” da população e da ocupação do território. No fim dos anos 50, o Brasil deixa de ser percebido como país acolhedor, como era logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. “Hoje, recebemos imigrantes do ‘sul do mundo’, o que nos coloca em nova situação. Latino-americanos, coreanos e africanos apresentam a permeabilidade das fronteiras, complementaridades de mercado e o estabelecimento das redes familiares em novo âmbito imigratório. Esta é a pluralidade em que vivemos”, afirma Póvoa, que crê na anistia como um dos passos muitos passos para a resolução do problema.
Paulo Illes, dirigente e imigrante paraguaio, mostra que a grande causa da imigração é a globalização e as políticas econômicas no contexto da restrição de entrada na Europa e nos Estados Unidos, cujas ações impedem a instalação do migrante usando como pretexto a ‘culpa’ pelo desemprego. “Na contemporaneidade, é importante observar a feminização da imigração. As mulheres já são 95 dos 200 milhões de imigrantes espalhados pelo mundo”, ilustra Illes, cuja atuação é focada nos desafios de políticas governamentais a serem empreendidas. Ele destaca a ausência de uma política migratória na União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a desarmonia das leis regionais que respondam a desafios atuais, e acima de tudo, ao direito de voto do imigrante.
De forma a enfatizar a presença feminina no quadro migratório, Renato Zerbini ressalta que 2/3 das famílias são sustentadas por mulheres e afirma que há uma nova realidade na América Latina a ser estudada na Comissão Econômica para Países da América Latina e Caribe (Cepal).
Scyla Huang Xun mostrou indignação quanto à situação de racismo e preconceito que os imigrantes sofrem. “A Anistia é uma ação para compor a estruturação da identidade de um novo mundo sem fragmentações. Trazemos por legalização uma maior arrecadação para o Estado. Todos saem beneficiados e em minha visão o Brasil está à frente do pensamento e, gradativamente, aplicará a aceitação de nossas múltiplas identidades”, concluiu Huang.