Pesquisa de Tatiana Lobo, doutoranda do Instituto de Bioquímica Médica, avalia se molécula encontrada na glândula salivar de carrapato, o Ixodes scapularis, pode impedir o crescimento de tumores.

 

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Molécula pode inibir o crescimento de tumores

Pesquisa de Tatiana Lobo, doutoranda do Instituto de Bioquímica Médica, avalia se molécula encontrada na glândula salivar de carrapato, o Ixodes scapularis, pode impedir o crescimento de tumores.

 

Bruno Motta

Uma molécula encontrada na glândula salivar de uma espécie de carrapato, o Ixodes scapularis, pode impedir o crescimento de tumores. Isso é o que diz a pesquisa de Tatiana Lobo, doutoranda do Instituto de Bioquímica Médica – (IBQM/UFRJ), que venceu recentemente um prêmio concedido pelo Journal of Thrombosis and Haemostasis a jovens pesquisadores, de até 35 anos, que publicaram no periódico em 2009.

A substância, chamada ixolaris, foi caracterizada em 2002 pelo grupo dos doutores José Marcos Chaves Ribeiro e Ivo Francischetti, pesquisadores brasileiros do National Institutes of Health, nos Estados Unidos, e identificada como um potente anticoagulante. Apesar de ser encontrada nas glândulas salivares do Ixodes scapularis, não há a necessidade de um exemplar do carrapato para a obtenção da substância. A molécula é produzida através de um processo de recombinação genética feito em laboratório.

A pesquisa

O professor Robson Monteiro, orientador da pesquisa e coordenador do Grupo de Trombose e Câncer, do IBQM-UFRJ revela que a pesquisa, realizada pelo grupo desde 2006, relacionou o processo anticoagulante do ixolaris com a evolução de tumores. A substância inibe a ação de uma proteína chamada Fator Tecidual, que inicia as reações da coagulação sanguínea. Assim, não há formação de trombos e novos vasos no tumor, reduzindo drasticamente a irrigação e consequente crescimento.

O ixolaris foi testado, até agora, em dois tipos de tumor: gliobastomas (cerebrais) e melanomas (de pele), extremamente agressivos e, assim, de mais fácil observação. Além da rápida evolução, outra característica do melanoma também chamou a atenção dos pesquisadores: “Ao contrário do glioblastoma, o melanoma tem enorme capacidade de gerar metástases, algo que. em geral. torna a doença praticamente incurável”, diz Robson Monteiro.

A evolução de tumores subcutâneos foi testada em dois grupos de camundongos: o primeiro com exposição à substância e o segundo sem nenhum tipo de tratamento. Após algum tempo, era nítida a diferença de evolução entre os dois grupos. “Camundongos tratados com Ixolaris tiveram crescimento tumoral menor em relação aos animais não tratados”, revela o professor, que continua: “neste caso pudemos mostrar também que o Ixolaris reduz drasticamente a formação de metástases pulmonares, evento muito comum nos portadores de melanoma em estágio avançado”, diz.

Ainda não há  a certeza de que o Ixolaris aja em tumores encontrados em humanos, mas as pesquisas avançam para que a resposta seja precisa. A autora do artigo está no Scripps Research Institute, nos Estados Unidos, onde testará a substância em tumores mamários e em condições favoráveis para entender as bases moleculares de seu mecanismo antitumoral, passo importante para descobrir que tipos de tumor poderiam ser tratados coma  molécula.

O Prêmio

O Pier M. Mannucci Young Investigator Prize é concedido anualmente pelo Journal of Thrombosis and Haemostasis, publicação oficial da Sociedade Internacional sobre Trombose e Hemostasia (ISTH, na sigla em inglês), há cinco artigos publicados no periódico por pesquisadores de até 35 anos no ano anterior.

O professor Robson classifica a conquista como reconhecimento da comunidade científica. “Se o artigo foi publicado e, mais do que isso, premiado, mostra que estamos no caminho certo”. Ele ressalta, ainda, o impacto que uma premiação tem sobre as pesquisas relacionadas ao mesmo tema: “O prêmio ajuda pesquisas posteriores a serem vistas pela comunidade científica como algo potencialmente interessante”, diz.