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Especialistas debatem benefícios dos eventos esportivos no Rio

Afinal, qual o legado a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas deixarão para o Rio de Janeiro? Este foi o tema da mesa-redonda "Mega eventos e políticas sociais", realizada pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC), no Salão Moniz de Aragão, através do encontro “Intervenções Esportivas no Tecido Urbano”, que discutiu a necessidade de melhorias sociais a partir dos dois eventos esportivos. Com a mediação de Victor Melo, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs) da UFRJ, também fizeram parte do debate, na última segunda (26/04), Nelma de Oliveira, mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Martin Curi, mestre em Sociologia pela Universidade de Hagen (Alemanha), e Altair Guimarães, morador e representante da comunidade Vila Autódromo.

Na opinião de Altair, que reside próximo a um local aonde serão construídas algumas das instalações das competições esportivas de 2016, nem sempre o legado e o transtorno causado são positivos para a população. “Já passei por duas remoções e agora estou lutando para não ter que passar pela terceira”, desabafou, frisando que, assim como os moradores da Vila Autódromo, muitas outras comunidades, localizadas em “perímetros de segurança dos Jogos”, também estão sendo obrigadas a abandonar suas próprias casas. “As coisas são sempre decididas de cima para baixo, sem levar em consideração a opinião da população”, criticou. “Ninguém perguntou se a gente concordava em sair de lá”, disse.

Segundo Martin Curi, porém, é difícil julgar se os eventos serão bons ou ruins porque eles estão carregados de valores simbólicos. “Cada pessoa vai ter a sua própria experiência com os torneios, muita gente vai gostar e muita gente não”, previu. Curi fez questão de ressaltar alguns objetivos possíveis de serem alcançados, como o maior acesso a informações sobre a cultura brasileira, a criação de infraestrutura para o país, como a construção de portos, aeroportos e malha viária, aumento do fluxo de turistas, jornalistas e atletas, além da entrada de mais recursos, a valorização do Real, bem como dos bairros que sediarem as competições.

Já a debatedora Nelma de Oliveira explicou que, para a eleição do Rio, como cidade sede de 2016, “houve uma necessidade excepcional de articulação ‘transescalar’, unificando vários partidos e forças públicas e privadas”. Com o otimismo político criado e o apoio de discursos sociais sobre os aspectos positivos dos Jogos, na visão da pesquisadora, gerou-se uma grande expectativa de desenvolvimento econômico para a população e os megaeventos esportivos seriam a chance perfeita para isso. “Para mim, só será benéfico se ajudar a diminuir de alguma forma a grande desigualdade entre a população e se trouxer essa discussão para o meio acadêmico”, opinou.

Por fim, Victor Melo foi incisivo em afirmar que a organização de grandes eventos esportivos no país, historicamente, não traz boas consequências. “Tudo vai ser deixado para ser construído em cima da hora para poderem fazer licitações com empresas que cobram três, quatro vezes mais”, antecipou o mediador. Segundo ele, o trabalhador brasileiro, maior pagador de impostos no mundo, será o grande prejudicado por não saber o que será feito com seu dinheiro. “As contas dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, só foram apresentadas agora”, argumentou Victor. “Estou convencido de que os Jogos só farão mal ao Brasil”, concluiu.