O engenheiro elétrico Ricardo Bartelo, diretor do Greenpeace Brasil, foi o convidado da aula inaugural da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC) da UFRJ, que aconteceu na última quarta-feira (14/04). O evento debateu os desafios ambientais que a sociedade enfrentará nos próximos anos e as perspectivas em relação ao futuro.
Bartelo comparou as diversas fontes de energia, a partir da exposição dos benefícios e das deficiências de cada uma delas. “O Brasil, que tem uma matriz considerada ‘limpa’ deve triplicar as emissões até 2020”, afirmou o diretor. “O número de usinas poluidoras vai dobrar e até triplicar” alertou.
“A hidrelétrica não é totalmente sustentável”, explicou, em referência à fonte de energia predominante no Brasil. Segundo o engenheiro, o alagamento necessário para que essas usinas funcionem causa transtornos sociais e ambientais. “Uma energia sustentável não é só limpa. Ela dialoga com a sociedade”, afirmou.
De acordo com Bartelo, energia nuclear não é uma solução. “Ela é relativamente limpa e hoje em dia é segura. Mas existe o problema do armazenamento do lixo radioativo. Nós não temos conhecimento em relação a isso, e os especialistas disponíveis nesta área no mercado são escassos. E é claro, as conseqüências de um desastre nuclear são incalculáveis, caso ocorram”, analisou.
De acordo com o diretor do Greenpeace Brasil, a discussão do pré-sal tem diminuído a atenção em relação às energias alternativas e adiado cada vez mais o debate para uma mudança significativa. “Nós não sabemos a demanda de petróleo nem de energia daqui a seis anos, quando começarem a retirar petróleo. E quanto de combustível fóssil será queimado nesse processo?”, indagou.
“A mudança climática é inevitável, pois a emissão de gás já foi feita”, afirmou. Este quadro, no entanto, segundo o engenheiro, pode ser minimizado com mudanças que devem ocorrer já. “O desafio, antes de reduzir, é parar de crescer”, argumentou. E para melhorar a situação é preciso união entre os empresários, o governo e a sociedade. “As pessoas precisam ser conscientes na hora de utilizar a energia”, pontuou.
Para demonstrar que o consumo consciente é possível, Bartelo simulou uma mudança na matriz energética brasileira, atualmente muito limitada. “A energia eólica e solar teriam que crescer rapidamente para criar uma base segura e limpa”, exemplificou. As dificuldades são muitas, segundo ele. “O Brasil precisa desenvolver sua própria tecnologia nos dois casos, pois a importação dela, além de não ser apropriada para o país, é cara”, disse.
A implantação das energias limpas está, sim, aliada ao crescimento econômico, segundo Bartelo. “A construção e a manutenção, além do desenvolvimento da tecnologia, gerariam, em média, 600 mil empregos, quase a mesma coisa do pré-sal”, comparou. E o sucesso deste processo depende também da integração entre todos os sistemas, inclusive o de transporte. “As energias limpas dependem de fatores naturais. Logo, você precisa de uma integração entre elas para que seja segura”, comentou.
O Brasil, de acordo com o engenheiro, tem um grande potencial. “Só de energia eólica teríamos dez usinas Itaipu”, disse. O diretor do Greenpeace, no entanto, não prega o fim mediato da queima dos combustíveis fosseis. “O ideal é que essas fontes sejam convertidas em riquezas para viabilizar novas formas sustentáveis para o futuro”, defendeu.