Andréa Camaz Deslandes, doutora em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveu, em parceria entre o Instituto de Psiquiatria da UFRJ e a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), um projeto que investiga o efeito dos exercícios físicos no tratamento da depressão maior, doença de Alzheimer e doença de Parkinson em idosos.
O estudo teve início com seu projeto de doutorado, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, quando a pesquisadora investigou inicialmente o efeito do exercício físico apenas na depressão maior em idosos. Hoje, ela dá continuidade ao trabalho em seu curso de pós-doutorado na Fiocruz, investigando não só os resultados na depressão maior, como também nas doenças de Alzheimer e de Parkison.
O projeto tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O trabalho é multidisciplinar, além do Instituto de Psquiatria da UFRJ e da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o programa de pós-graduação da Educação Física e o Instituto de Neurologia da UFRJ participam do projeto. O programa conta com professores e alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.
A pesquisadora explica que as doenças de Alzheimer e de Parkison são neurodegenerativas e muito prevalentes em idosos. Essas doenças não têm cura, e nem sempre um tratamento farmacológico é eficaz. O objetivo do projeto é, então, investigar alguns tratamentos não farmacológicos que possam colaborar com os medicamentos na melhora não só da resposta ao tratamento, mas também da qualidade de vida do paciente. "O exercício físico na literatura nos últimos dez anos é associado não só à melhora da saúde física, mas também à da saúde mental, diz Andréa. "Através de vários estudos, principalmente desenvolvidos em animais, são demonstradas algumas alterações em neurotransmissores, em fatores tróficos do cérebro", acrescenta.
Andréa explica que muitos fatores tróficos estão relacionados à melhora da plasticidade e da memória, como é o caso do BDNF (brain derived neurotrophic factor), o fator neurotrófico do cérebro. Esse fator também está associado à neurogênese, formação de novos neurônios no hipocampo do cérebro adulto. Com as evidências de que o exercício pode colaborar com o aumento da neurogênese, da sinaptogênese, formação de novas sinapses, da angiogênese, que é a produção de novos vasos no cérebro e, ainda, o aumento de neurotransmissores. O trabalho poderia colaborar com uma melhora do humor, da cognição e da parte motora dos idosos.
A pesquisa investiga a atividade elétrica do córtex dos pacientes, o que a faz inédita. "Nós investigamos o eletroencefalograma antes e depois desse treinamento físico", diz Andréa. Além da atividade elétrica, os médicos avaliam a qualidade de vida, o humor (sintomas de depressão dos pacientes) e a parte funcional dos pacientes. Uma série de testes cognitivos é feita para avaliar a memória de curto e longo prazo e a atenção.
O programa tem uma sala no Instituto de Neurologia da UFRJ, com todos os equipamentos necessários para que os pacientes se exercitem. Eles treinam duas vezes por semana, em uma sessão de trinta a quarenta e cinco minutos. Os pacientes são divididos em grupos, os que fazem treinamento aeróbio, os que fazem treinamento de força e os que não fazem nada, só utilizam tratamento farmacológico. O objetivo é investigar se as atividades aeróbicas são o tratamento mais indicado para a redução dos sintomas.
Resultados
Já foi identificado na depressão, doença que iniciou a pesquisa, que ao comparar o grupo que faz exercícios e utiliza o medicamento com o outro grupo que só faz a utilização do medicamento, sem o exercício, o segundo apresentou diminuição nos sintomas da depressão. "Houve melhora na capacidade funcional e um aumento da atividade cortical", afirma Andréa.
A pesquisa, que já recebeu o Prêmio Saúde é Vital, na categoria Saúde Mental e Emocional, da editora Abril, e foi publicada na revista internacional Biological Psychology, é muito promissora. "A doença do Alzheimer por exemplo é uma doença neurodegenerativa muito agressiva, em que o declínio cognitivo é muito rápido. Se nós conseguirmos deixar que esse declínio não aconteça de forma tão agressiva, isso já vai ser uma grande vitória. Se nós conseguirmos uma melhora, vai ser um resultado maravilhoso”, conclui a pesquisadora.