Em debate realizado na última segunda, dia 8, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, os atores Odilon Esteves e Cláudio Dias, em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), com a peça Aqueles Dois, falaram sobre a relação horizontal estabelecida pelos artistas envolvidos no espetáculo. “Durante a montagem dessa peça, desenvolvemos o ator no exercício pleno de todas as funções teatrais, desde a iluminação até o cenário”, revelou Odilon. “Todos têm total liberdade para fazer as mudanças que desejarem”, explicou, em referência à ausência de hierarquia entre os integrantes da Cia. Luna Lunera, na montagem do conto homônimo de Caio Fernando Abreu.
Na opinião de Cláudio Dias, essa já é uma dinâmica irreversível dentro do grupo teatral formado originalmente em Belo Horizonte, em 2001. “Temos em nosso histórico a realização de outras peças em que diretor, ator e dramaturgo poderiam interferir abertamente na atividade uns dos outros”, relatou. Os ensaios abertos ao público também são usados para buscar maior participação das pessoas e interação com o interlocutor, que tem o poder, inclusive, de mudar os rumos da peça. “Acho que esse caminho por onde entramos não tem volta”, afirmou Cláudio, satisfeito com a direção em conjunto adotada pela Companhia.
Como exemplo disso, Odilon Esteves contou o caso de um senhor que, em uma das apresentações de Aqueles Dois, elogiou bastante o desempenho dos atores e a produção do espetáculo, mas saiu do teatro lamentando a excessiva utilização de cigarros durante as cenas, já que sofria de enfisema pulmonar. “Não consegui parar de pensar naquele espectador, fiquei preocupado com ele”, recordou o ator, que decidiu eliminar o uso da droga depois disso. “O cigarro é um elemento dramatúrgico importante, mas, aos poucos, conseguimos substituí-lo em todas as ocasiões em que ele aparecia”, completou.
Antes do debate, também foi exibido o filme Aqueles Dois, de 1984, dirigido por Sérgio Amon. Para o crítico do Jornal do Brasil, Daniel Schenker, que também esteve presente ao evento, a iniciativa dos integrantes da Cia. Luna Lunera se assemelha ao comportamento dos personagens Raul e Saul, da obra de Caio Fernando Abreu, já que buscam trilhar um caminho novo e desconhecido ao experimentar uma direção de múltiplas origens. “Não existia garantia prévia de sucesso no que eles fizeram, o que é ainda mais admirável”, elogiou. “A cada momento, parece que os atores estão descobrindo suas falas, como se não estivessem memorizadas, o que confere ao espetáculo uma noção de atualidade”, opinou o crítico.