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Veias ainda abertas

Especialistas latino-americanos criticam as ocupações militares estrangeiras, no último dia do Fórum Social Mundial 2010.

De São Leopoldo, RS – Na última sexta, 29, derradeiro dia de atividades do Fórum Social Mundial 2010, Lorena Zelaya, ativista da Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras, participou da mesa de debates sobre a escalada militar imperialista na América Latina, realizada na Casa Cuba, em São Leopoldo. Lorena, que apesar do sobrenome não tem parentesco com o presidente deposto, lembrou os 192 dias de protestos da população do país, após o golpe de estado. “Houve uma imensa campanha midiática orquestrada para desestabilizar o governo. Após o golpe, uma onda de violência caiu sobre o país: aqueles que se manifestavam contra o novo presidente foram reprimidos e até mesmo mortos”, denunciou.

Lorena Zelaya destacou o que considerou uma “interferência direta” dos Estados Unidos no episódio. “Os estadunidenses mantêm a sua base militar de Palmerola, que deu apoio logístico ao golpe”, disse. Segundo a militante, as manifestações vão continuar. “Agora estamos em uma nova fase. Acredito que a eleição de Porfírio Lobo é continuação do golpe e vamos lutar até que tenhamos uma Constituição que contemple os direitos do povo hondurenho”, frisou, agradecendo ainda “o apoio do governo brasileiro” por receber Manuel Zelaya em sua Embaixada, e aos demais povos da América Latina que, segundo Lorena, “deram o apoio à luta, sem os quais as frentes de resistência não teriam conseguido prosseguir”, completou.

Colômbia

Jose Luis Cock, representante da Fundación Candelario Obeso, da Colômbia, também participou da mesa. Ele manifestou repúdio contra a instalação de bases militares estadunidenses em seu país e criticou a postura, segundo o militante, subserviente por parte do governo de Álvaro Uribe. “Nossa Constituição exige que para a instalação de bases militares estrangeiras no país, deva haver uma consulta ao Congresso Nacional, o que não aconteceu. O que houve foi um acordo secreto, feito pelas costas do povo colombiano”, comentou enfático. Cock também denunciou a violência por parte dos soldados das tropas de ocupação. “Os militares estão violentando sexualmente crianças e mulheres. Isto precisa ser noticiado”, revelou.

Haiti

O caso Haiti não foi esquecido. Carlos Trejol, cônsul-geral de Cuba no Brasil, enfatizou o histórico de ocupações no país. “O Haiti está pagando pela sua independência. Em 1901, eles constituíram a primeira república negra livre do mundo. Durante 50 anos, passaram por ocupações de tropas francesas e estadunidenses”, lembrou.

Para Trejol, “o Haiti vive um terremoto social há cem anos, que acabou com as possibilidades de desenvolvimento do país”. O cônsul explicou ainda que o governo cubano vem prestando ajuda humanitária, através médicos e agentes de saúde enviados, bem como na formação de profissionais haitianos formados nas escolas cubanas. “Os Estados Unidos estão se aproveitando dessa situação para invadir o Haiti, que é uma região estratégica, a 70 km de Guantánamo. O governo haitiano, por sua vez, não tem muita escolha se não aceitar esta ingerência. O que o Haiti precisa é de água, comida e saúde, não de armas”, defendeu.

Entenda o golpe em Honduras

Em abril de 2009, o então presidente hondurenho, Manoel Zelaya, convocou um plebiscito para a convocação de uma nova Assembleia Constituinte. Setores das forças armadas, aliadas a partidos conservadores, resistiram à medida, provocando uma divisão política no país. No dia 28 de junho de 2009, Mel Zelaya, como é conhecido, foi preso em sua residência, acusado de desobediência constitucional. Países de todo o mundo condenaram a ação que precedeu a posse de Roberto Micheletti, como presidente interino. Após a realização de eleições – cuja presença popular foi “pífia”, segundo Lorena Zelaya – o candidato Porfírio Lobo, do Partido Nacional (oposição a Zelaya), sagrou-se vencedor. Com o resultado, o ex-presidente exilou-se na República Dominicana.