No último sábado, dia 15, durante um evento em homenagem ao combatente Carlos Marighella – morto por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em 1969 – os participantes foram surpreendidos por uma ameaça de bomba. Realizado no auditório da Caixa Cultural, no Centro do Rio, o ato, organizado pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ e Exposição Marighella, contou com a exibição do filme Marighella – Retrato falado do guerrilheiro, de Silvio Tendler. Em seguida, seriam realizadas homenagens aos militantes mortos e desaparecidos durante o período da ditadura militar, quando chegou a ordem de evacuar o prédio. Cerca de 150 pessoas estavam no local.
Para Mariléa Venâncio Porfírio, diretora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH/UFRJ), órgão suplementar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, "o episódio foi uma tentativa de intimidar os movimentos que constantemente manifestam sua insatisfação contra a violação dos direitos humanos, em um momento em que se discute o Programa Nacional dos Direitos Humanos".
Entre as medidas do Programa, está a criação da Comissão Nacional da Verdade, que investigará os crimes cometidos durante os governos militares. “O nosso processo democrático ainda não está plenamente construído. Constantemente surgem reações que ameaçam a sua continuidade”, comentou.
Segundo a docente, a imprensa, juntamente com organizações da sociedade civil, entre elas, o Grupo Tortura Nunca Mais, deve prosseguir em seu trabalho de resgatar a memória dos combatentes desaparecidos. “Esta é uma tentativa de intimidação, mas não devemos deixar que nos calem a boca”, afirmou.
O NEPP-DH, que é favorável à implantação da Comissão Nacional da Verdade, deve realizar a partir de março um evento para debater o Programa Nacional dos Direitos Humanos.