Centenas de representantes de movimentos sociais estiveram reunidos na tarde desta segunda, dia 25, para a Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS).

">Centenas de representantes de movimentos sociais estiveram reunidos na tarde desta segunda, dia 25, para a Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS).

">
Categorias
Memória

Pluralidade de opiniões e tendências

Centenas de representantes de movimentos sociais estiveram reunidos na tarde desta segunda, dia 25, para a Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS).

De Porto Alegre – Centenas de representantes de movimentos sociais estiveram reunidos na tarde desta segunda, dia 25, para a Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial. A concentração aconteceu na Praça Glenio Peres, em frente à Prefeitura Municipal de Porto Alegre, no Centro, de onde os manifestantes saíram em direção à Usina do Gasômetro, às margens do Rio Guaíba. Lá, milhares de pessoas assistiram a shows musicais e demais apresentações artísticas.

Além das tradicionais entidades classistas, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), partidos políticos, como o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido do Socialismo e Liberdade (Psol), estiveram presentes também movimentos de base, nem sempre favoráveis ao formato do FSM em 2010, considerado por alguns centralista ou disperso.

Rede Estudantil Classista e Combativa

Estudantes do Ceará, Brasília, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul levaram suas bandeiras para a Marcha. Rodrigo, que preferiu não revelar seu sobrenome, é aluno da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, a Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC) foi a Porto Alegre debater a pauta estudantil para o ano de 2010. Com um discurso crítico à agenda do FSM, o estudante questionou o evento como independente. “(O Fórum) não é um espaço de articulação válido, pois segue a pauta governista”, criticou.

Outro militante, que se identificou apenas como Leon, da Universidade Federal Fluminense (UFF), atacou outras organizações estudantis. “A UNE (União Nacional dos Estudantes) é a síntese disso. Ela asfixia os movimentos estudantis legítimos”, disparou, apontando ainda para a Nova Organização Voluntária Estudantil (Nove). “É uma grande besteira. Totalmente despolitizada. Não está atrelada a nenhum movimento de base. Foi criada para atender aos interesses midiáticos”, comentou, para, em seguida, defender a RECC. “Nós somos um movimento que defende os interesses dos estudantes filhos da classe trabalhadora, não da elite. E é isso que viemos fazer aqui”, concluiu.

Cuba

A Associação Cultural José Martí do Rio Grande do Sul está no Fórum Social Mundial em defesa dos interesses do povo cubano. Ricardo Haesbaert, líder no movimento em Porto Alegre, critica a maneira como o governo Obama vem tratando as negociações acerca do fim do embargo econômico à ilha caribenha. “As coisas continuam do mesmo jeito. Em um ano de governo, Obama está igual ao Bush. Esperamos que isso mude”, critica. A cobertura da mídia internacional sobre Cuba também foi questionada por Haesbaert. “A mídia mantém a linha de crítica ao governo e não divulga as políticas sociais empreendidas ao longo de 50 anos de Revolução. Não li uma linha sequer sobre os 400 haitianos que se formaram em Medicina em Cuba e hoje ajudam os sobreviventes do terremoto”, afirma.

Movimento Nacional de Luta pela Moradia

Cristiano Schumacker é dirigente de um movimento de base, que visa atender a população de rua em todo o país: o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). Nesta edição do FSM, ele está em Porto Alegre junto com cerca de 800 jovens. “Viemos para o evento reivindicar a regulamentação fundiária urbana. Participamos do Fórum desde a primeira edição e estamos aqui para somar forças na luta pela reforma urbana, com foco na formação de jovens dirigentes”, disse.

Haiti

A tragédia no Haiti não ficou de lado durante os debates do FSM. Uma imensa bandeira com os dizeres “O Haiti precisa de comida, não de armas” foi estendida no meio da praça Glenio Peres. Berna Menezes, militante do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), criticou o papel do governo brasileiro no país caribenho. “A maior criminalização dos movimentos sociais que vemos hoje é o Haiti. As pessoas estão morrendo de fome e de sede e a imprensa internacional chama a população haitiana de saqueadora”, opinou. Para ela, “ao enviar soldados para o Haiti, o governo Lula está reproduzindo o discurso dos Estados Unidos e seu caráter militarista”.

Mulheres

“Seguiremos em marcha até que sejamos livres” e “Sou lésbica e tenho orgulho” foram algumas das faixas e cartazes erguidos pelas militantes dos movimentos Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e Marcha Mundial de Mulheres. Ana Naiara, da LBL, se disse positivamente surpresa com a mobilização dos dois movimentos, um dos mais sonoros da Marcha. “Mesmo que esta edição do Fórum tenha dispersado as pessoas, a nossa mobilização conseguiu ser uma das mais animadas”, disse, em referência a coreografias, gritos de guerra e adereços coloridos das manifestantes.

Na próxima quarta, dia 27, Naiara e as demais militantes estarão em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, para a plenária que debaterá temas como a liberdade sexual e a Marcha Feminista, que acontecerá no mundo todo, de 8 a 18 de março. No Brasil, o trajeto tem início em Campinas e segue até São Paulo. “Nossa meta é levarmos três mil mulheres”, almeja a manifestante. “Queremos discutir a forma como a sexualidade é tratada por muitos movimentos feministas, que abordam a questão da liberdade sexual e acabam restringindo a sexualidade a estereótipos. Como se tivéssemos que nos enquadrar em um rótulo: homo, hetero ou bissexual”, argumenta.

Cíntia Pereira, da Marcha Mundial de Mulheres, explica que a proposta surgiu como forma de protesto à violência contra a mulher, mas acabou abrangendo bandeiras como a legalização do aborto e da liberdade sexual. Para ela, “a forma como o governo federal vem tratando a questão do aborto é um retrocesso”. Cíntia acredita que a questão deve ser tratada como caso de saúde pública. “No entanto, o Estado incorpora o discurso da Igreja e de setores conservadores da sociedade”, conclui.