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As cotas raciais segundo a mídia*

Muniz Sodré, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO), participa de debate sobre a cobertura da imprensa a respeito do tema.

 “A sociedade brasileira ainda guarda uma herança da escravatura.” Esta foi a opinião do professor Muniz Sodré, da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, durante o seminário O Papel da Mídia no Debate sobre Igualdade Racial, realizado em 15 de outubro, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A palestra teve o propósito de debater o papel dos veículos de comunicação nas questões relativas a desigualdades raciais e a atuação da mídia numa sociedade democrática, seus limites e responsabilidades. Além de Sodré, estavam presentes Miriam Leitão, colunista de economia do Jornal O Globo, e Rosângela Malaquias, integrante do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT).

Segundo Sodré, existem rótulos para os negros na população, que também estão presentes na mídia. Exemplos são os papéis desempenhados por atores negros em telenovelas, na maior parte das vezes como empregados domésticos ou  motoristas, além de serem sempre objetos de ciência nas pesquisas e trabalhos de antropólogos e sociólogos, porque ainda são estereotipados como “mudos”. Para o professor, a grande arma a favor do combate à descriminação racial é a aproximação, ou seja, quebrar as barreiras impostas aos negros e aproximá-los de locais antes quase não frequentados por eles, como, por exemplo, universidades, grandes empresas e mídia.

Perguntado sobre o papel da mídia nas ações afirmativas para igualdade racial no Brasil, Sodré afirmou que os meios de comunicação constroem e impõem realidades. Logo, são de suma importância para ações afirmativas contra a desigualdade. Por isso, é necessário dar voz a pequenas dissidências favoráveis à mobilização social dos negros, como a revista Raça.

A respeito das cotas, Sodré considera que a mídia se manifesta de forma quase sempre desfavorável. Segundo pesquisa de Rosângela Malaquias, do CEERT, a maioria das grandes empresas de comunicação no Brasil é contra a medida. Os jornais Folha de São Paulo, Estadão e a revista Veja, três dos maiores veículos comunicativos do país, comentam o assunto, mas suas reportagens são 100% contrárias, argumentando que a ação fracassou em outros países, e que a solução para a desigualdade não está no ensino superior, mas sim no ensino básico de qualidade para todos.  O Globo é a exceção, porque exibe mais matérias sobre o tema e tem um percentual mais equilibrado nas tendências das opiniões. Mesmo assim, 56,5% das reportagens são contrárias e 40%, a favor das cotas.

Os veículos contrários nunca abordam o ponto de vista de fontes favoráveis, como o arquiteto Oscar Niemeyer, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e os atores Lázaro Ramos e Wagner Moura. “A lei de cotas é positiva porque melhoraria as condições sociais dos negros, além de aproximá-los das universidades frequentadas, em sua maioria, pelos brancos”, concluiu Sodré.

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* Matéria publicada na editoria “De olho na mídia”, na edição 272 do Olhar Virtual.