Sob a orientação do professor Roberto Machado, a formanda do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) Maria Laura de Carvalho fez uma abordagem filosófica de diversas obras cinematográficas. A pesquisa intitulada “Verdade e falsidade em Deleuze e no cinema”, apresentada no dia 07/10, conduziu os ouvintes e professores a uma reflexão sobre as maneiras de representação do “verdadeiro” nas grandes telas, através da ótica de diversos filósofos. A coordenação do evento ficou por conta dos professores Eduardo Refkalefsky, da Escola de Comunicação, e Andréa Pinheiro, do Colégio de Aplicação da UFRJ.
Maria Laura utilizou-se de uma perspectiva Deleuziana para sustentar a posição de que existem, pelo menos, duas maneiras de se falar do realismo representativo no cinema: através da doutrina do julgamento, ou da identificação afetiva.
Por doutrina do julgamento, a autora da pesquisa explica que se trata de uma identificação do “modo certo” de se ver por trás das lentes com valores ascendentes e externos. Cita, neste sentido, o antigo filósofo Platão. “Para Platão existem dois tipos de imagens: a boa cópia e a má cópia. A má é aquela que foge [do mundo] das ideias.”
Em contrapartida, no modelo em que o afeto é notado a questão passa não mais a ser a de uma identificação com o que é externo ao espectador, mas sim daquilo que é imanente e intrínseco àquele que assiste. Trata-se, em última instância, do julgamento do que, pessoalmente, é mais agradável. Segundo esse modelo, afirma Maria Laura que “não devemos criar critérios de julgamentos aos quais a vida deve se adequar”. Pelo contrário: a arte da imagem torna-se parte visceral daquele que a cria e vê.
Os exemplos cinematográficos de representação imagética foram muitos. Do cinema moderno, Maria Laura citou obras como “Alemanha no Zero”, clássico do neo-realismo (movimento cinematográfico russo do século XX). Ao lembrar a tristeza do menino responsável pela morte do próprio pai na obra de Rousselini, a autora enfatiza a questão da câmera que o segue pela Alemanha destruída do pós-guerra, numa demonstração imagética da devastação que sente o personagem. Outra lembrança foi a dos métodos típicos da vanguarda nouvelle-vagueana para inserir o espectador na representação. Como alguns personagens que, neste movimento, se dirigem diretamente à plateia – tornando o elo entre o real e o imaginário ainda mais tênue.
No cinema clássico narrativo, Maria citou o diretor Alfred Hitchcock – que gostava de fazer questionamentos com relação à representação –, o filme expressionista alemão “O gabinete do Dr. Calighari” – com altas apostas no elo imagem e som –, o filme “A paixão de Joana D’arc” – uso extenso de Close-ups – e a obra “A caixa de Pandora”. Neste último, a autora enfatiza a importância de um plano sobre uma faca, em cima de um balcão, para o andamento da narrativa.
Dentre os filósofos que fizeram coro na voz da palestrante, estava Friedrich Nietzsche. O alemão, famoso por seus aforismos ácidos e propostas de reafirmação da vida, teria dito: “Em nossa busca pela verdade, inventamos a mentira.”
É nesse sentido que o cinema poderia estar inserido. Como modelo representativo, mas não totalmente desprovido de realidade. É também através do filósofo que se questiona a relação do “real” com o cinema: um fazer artístico desvinculado de questões morais ou científicas, apenas imanente por si só.
A pesquisa de Maria Laura mostrou que filosofia e cinema muitas vezes andam entrelaçados. E diz: “Querer a arte pela arte é o mesmo que querer a vida pela vida. É libertador.”