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Os motivos para o abandono dos cursos de Educação Física

Com o tema “A construção do abandono: percepções discentes e evasão estudantil”, o aluno do oitavo período de Educação Física Luiz Felipe Stellet apresentou hoje (09/10) seu trabalho na XXXI Jornada de Iniciação Científica, Artística e Cultural, na Escola de Comunicação da UFRJ. O objetivo da pesquisa foi entender os motivos que levam os alunos de Educação Física, atualmente quinto colocado entre os cursos com maior número de evasão, a desistirem tão rapidamente da faculdade. Como foco de seu trabalho, o pesquisador analisou casos de graduandos entre os anos de 2004 e 2006.

 

Segundo Luiz Felipe, houve, durante uma década, um boom da profissão, que ganhou muito destaque na mídia. Os personal trainers se popularizaram e a busca pela formação em Educação Física aumentou significativamente, o que provocou um crescimento de 400% da oferta dos cursos nessa área, entre 1997 e 2006. Mas, apesar disso, muitos estudantes se decepcionaram com as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho, o que os levou ao abandono do curso ainda nos primeiros períodos.

 

A hipótese defendida durante a apresentação da pesquisa afirmou que, por causa da mudança de perfil dos estudantes que passaram a procurar o curso de Educação Física, as decepções tenderam a ser mais frequentes. “A profissão ganhou destaque e atraiu muitos alunos com alto capital econômico. Quando entravam na faculdade e viam a realidade da Educação Física, porém, esses alunos percebiam que não iam poder concretizar suas expectativas profissionais e manter suas posições sociais, preferindo assim evadir”, explicou Luiz Felipe.

 

O gráfico apresentado, diferenciando as evasões entre os dois semestres de cada ano, comprova o desenvolvimento desse raciocínio. Os números de abandono no primeiro período, que recebe estudantes mais abastados, com notas mais altas, vindos de escolas particulares e de melhor qualidade de ensino, são bem maiores que os do segundo semestre. De acordo com o trabalho, apenas 14% dos estudantes desistentes são de baixa renda. A grande maioria que sai e procura outras áreas de maior prestígio possui pais diplomados, com empregos considerados de alto nível.

 

Vale ressaltar ainda que 41,6% desse grupo também citaram a metodologia de ensino como uma das razões para o abandono. Para eles, o “clima de clube” presente nas faculdades de Educação Física, com excesso de aulas práticas e muito tempo livre dentro do campus, faz com que o curso perca sua legitimidade. Apesar disso, 50% dos que evadem não voltam a estudar ou a cursar alguma outra faculdade ainda. Outra questão importante é a diferenciação feita recentemente entre bacharelado e licenciatura: quem se forma como professor pode dar aulas em colégio, mas quem se torna bacharel só pode trabalhar em academias e clubes, o que diminui bastante as ofertas no mercado de trabalho para esse segundo grupo.

 

Como conclusão final de sua pesquisa, Luiz Felipe acredita que o perfil dos alunos volte a ser o mesmo que existia antes do crescimento da procura. “Os estudantes começaram a perceber que o mercado da Educação Física ainda é muito fechado e não paga tão bem quanto se supunha. O boom dos últimos anos começa a dar sinais de enfraquecimento e é provável que com essa percepção o principal aspecto determinante do processo de evasão volte a ser de ordem econômica”, lembrou ele, afirmando que antigamente muitos graduandos não conseguiam concluir o curso por dificuldades financeiras, e não por insatisfação com a profissão.