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Atlético x Cruzeiro: uma rivalidade em discussão

O Pós-doutorado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea  (PACC) realizou nesta quinta feira, 17 de setembro, o Encontro de Pesquisadores. Apresentando sua pesquisa de tema “A construção discursiva da rivalidade entre Atlético e Cruzeiro", Marcelino Rodrigues de Freitas, pesquisador do PACC, contextualizou o desenvolvimento do futebol, com o crescimento da cidade de Belo Horizonte e a formação da população local.

Trabalhando a relação entre os imaginários locais, regionais e brasileiros, Marcelino elaborou um estudo sobre como o futebol pode ser campo de produção de sentido e de política. O desenvolvimento dos times, desde o amadorismo até os campeonatos profissionais e a integração das torcidas foram usados para dialogar com as visões do que seja popular,  tomados os exemplos do Atlético e do Cruzeiro.

"A rivalidade entre Atlético e Cruzeiro acontece nesses dois grupos que querem para si a visão de popular. Não se deve, nesse caso, usar as comparações de pobre x rico ou , negro x branco", comentou Marcelino ao explicar sobre o surgimento e popularização dos dois clubes mineiros.

De acordo com o pesquisador, o futebol surge em Minas Gerais como um esporte da elite, praticado em clubes fechados, mas que como tempo foram aderindo torcida e assim abriram espaços para a popularização. Na década de 30, Atlético e o, então, Palestra Itália (que viria a se tornar Cruzeiro, em 1942) buscaram a profissionalização do futebol, marca da popularização do esporte na época. 

Dos três maiores clubes mineiros, o tradicional América hoje é considerado um clube pequeno e muito se deve ao receio dos dirigentes da década de 30 que, ao verem Atlético — seu rival mais antigo e de raízes parecidas de jovens de classe mais alta da capital — e Cruzeiro — mais novo e nascido de imigrantes italianos — buscando se tornarem profissionais, preferem manter o clube nos campeonatos amadores. "Atlético e Palestra Itália optaram pelo profissionalismo e o América permanece na liga amadora e só se torna profissional em 1943."

Marcelino terminou fazendo uma divisão por características das torcidas: a do Atlético seria a da “raça e paixão”, uma torcida antirracional, apaixonada, passional. A do Cruzeiro seria a de “trabalho e astúcia”, racional, batalhadora, levando uma imagem heróica do popular. Duas formas bastante diferentes de ser popular. "Há a necessidade de criar a rivalidade. Essa divisão é antropológica" terminou.