Categorias
Memória

Criacionismo x Evolucionismo: um debate sem fim

Em parceria com a Editora Civilização Brasileira, a Casa da Ciência da UFRJ lançou nessa quinta-feira (3/9) o livro “A goleada de Darwin – sobre o debate criacionismo/darwinismo”, escrito pelo pesquisador Sandro de Souza, do Instituto Ludwig. Durante o evento, que examinou a conflituosa relação entre as duas correntes, o autor do livro defendeu a teoria evolucionista, desenvolvida por Charles Darwin. Há 150 anos, o naturalista britânico propunha que a evolução dos seres vivos se dá por meio da seleção natural.

Na visão de Sandro, ao tornar o homem apenas mais um animal primata que evoluiu naturalmente de outras espécies, o darwinismo toca num ponto crucial, retirando-o do local central que ele ocupa no pensamento criacionista. “Deixamos de ser o centro do universo, fruto da criação divina, como defendem as correntes religiosas”, opinou ele. A grande preocupação do pesquisador, no entanto, é que tais crenças sejam adotadas pelo ensino escolar, já que 89% da população brasileira acredita que os estudantes devem aprender o criacionismo nos colégios públicos.

“Nos EUA, por exemplo, a Suprema Corte defende que o ensinamento de doutrinas religiosas viola a primeira emenda constitucional, que assegura que o Estado é laico”, afirmou Sandro, ao explicar que as diretrizes educacionais daquele país, estabelecidas por comitês eleitos pelos próprios cidadãos, também apoiam o criacionismo. De acordo com Gastão Galvão de Carvalho Souza, professor de Química Ambiental da UERJ, há aqui no Brasil um projeto de lei para ser votado no Senado que concederia a permissão para escolas católicas ensinarem os conceitos bíblicos de Deus sobre a criação humana, o que “abriria um perigoso precedente para as outras religiões”.

Para José de Albuquerque Vieira, professor de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, fazer ciência é lidar com a possibilidade do real, mas não há como saber se Deus existe realmente ou não. “Os cientistas são realistas, objetivos, críticos, o que se opõe aos subjetivismos e aos extremismos idealistas apregoados pelos religiosos. Mas não consigo provar ou negar, racionalmente, a existência de um Deus”, afirmou ele. Ciente de que dificilmente se conseguirá chegar a um consenso sobre a origem humana, Gastão concluiu: “Esse é um debate que nunca vai ter fim”.