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Memória

Edgar Morin na UFRJ

Aos 87 anos, o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin fala, no Colégio Brasileiro de Altos Estudos, que os problemas contemporâneos só podem ser compreendidos através de uma visão multidisciplinar.

 O sociólogo e filósofo francês Edgar Morin esteve na UFRJ na última quinta-feira, dia 2. Por cerca de uma hora, o público, que lotou o auditório do prédio anexo do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da universidade, no Flamengo, assistiu à conferência “Para além do desenvolvimento: uma via possível?”.

Com uma visão transdisciplinar, Morin analisou o processo de globalização experimentado pelo mundo a partir dos anos 90. O sociólogo destacou que todos os aspectos globalizatórios estão interligados, mas que, por conta da visão fragmentada dos intelectuais, a mundialização não é compreendida em sua totalidade. “Estamos acostumados a lidar com conhecimentos separados. As categorias intelectuais não são capazes de fazer as conexões e de entender, a fundo, a realidade.”

Para o francês, a globalização encerra uma contradição dialética: possui processos que promovem, ao mesmo tempo, a união e a desagregação. Morin exemplifica apontando que, embora a sociedade ocidental experimente, cada vez mais, uma homogeneização cultural, existem movimentos, como os verificados em províncias da França, que optam por resgatar valores tradicionais como forma de resistir à massificação de gostos e costumes.

O intelectual pontuou também que o modelo ocidental de vida, encarado como o ideal, desembocou em crises. Uma delas é o que Morin chama de “crise do futuro”. Durante décadas, a ideia de progresso pressupunha a ascensão permanente das nações. O presente, marcado por incertezas, no entanto, desmente essa premissa. “As promessas de felicidade, de diminuição das desigualdades sociais não foram cumpridas e, por isso, provocam um mal-estar geral. Não se sabe onde estaremos amanhã. O presente é de angústias”, analisa Morin.

Além dessas, Edgar Morin enumerou outras crises inerentes ao capitalismo. Falou sobre o colapso das sociedades tradicionais e sobre as crises da religião e da política. Comentou a falência do humanismo e defendeu, ainda, um “humanismo planetário”, no qual a unidade e a diversidade humanas fossem respeitadas.

Morin explicou que todas essas crises representam, em última instância, um esgotamento do modelo de desenvolvimento capitalista, calcado apenas no crescimento econômico dos países. Para o sociólogo, o desenvolvimento mundial, para além das questões de Economia, deve ser pensado sob três novos prismas: o da ética, o da equidade e o da sustentabilidade.

Aos 87 anos, Morin afiança que a solução das crises, bem como o novo modelo de crescimento podem ser processados no atual. Otimista, diz: “Dentro das crises é que se gestam as metamorfoses da mudança.”

Um homem complexo

Edgar Morin nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921. Graduou-se em História, Geografia e Direito e, atualmente, é professor emérito do Centre National de la Recherche Scientifique. Autor de livros como O homem e a morte, Ciência com consciência e A cabeça bem-feita, Morin se notabilizou por ser um dos principais estudiosos da Complexidade. Para o intelectual, as complexidades das sociedades contemporâneas só podem ser compreendidas se forem lançados sobre elas olhares multidisciplinares.