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Posição errada do joelho provoca desvio da perna

Se você já assistiu ao humorístico Chaves quando criança, deve se lembrar da posição estranha e engraçada das pernas do personagem Quico. Ele possui os joelhos voltados para dentro, o que confere a sua perna um formato em X chamado popularmente de tesourinha. Esse desvio de eixo do membro inferior chama-se posição geno valgo e é normal entre dois e quatro anos de idade, porém pouco comum depois dessa idade.

Segundo César Fontenelle, chefe do Serviço de Ortopedia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e coordenador da residência médica em ortopedia, geno varo e geno valgo são desvios do membro inferior normais no desenvolvimento infantil. O geno varo é quando a perna tem um desvio para dentro e fica arqueada como a de um cowboy. Já o geno valgo é quando a extremidade se afasta do centro do corpo e fica naquela posição de tesourinha.

— Por volta do início da fase da marcha até dois anos, ou seja, de um a dois anos de idade, é normal a criança apresentar um discreto geno varo. Entre dois e quatro anos de idade é normal isso evoluir para um valgo. Aos quatro anos, o desvio costuma se normalizar na maioria dos casos, porém em algumas pessoas persiste — explica o ortopedista.

Até dois anos de idade é fisiológico a criança ter varo e entre dois e quatro anos é fisiológico a criança ter valgo (já que crianças têm hiperfrouxidão ligamentar). “É algo comum em muitas crianças e considerado uma fase normal do desenvolvimento. No período de normalidade nenhum dos dois acarreta dor ou atrapalha o andar da criança. Os motivos que levam ao não-desaparecimento da deformidade em algumas crianças não são conhecidos ao certo”, afirma o ortopedista.

Tratamento

Os casos de deformidade fora do período da normalidade merecem tratamento, feito através de órteses, principalmente noturnas. “Órteses são aparelhos ortopédicos colocados para conduzir o crescimento. Servem como suporte para corrigir alguma deformidade ou então para imobilizar um membro. No caso é utilizado para corrigir e guiar o crescimento correto”, diz César.

A órtese noturna age corrigindo o desvio ao estimular a cartilagem de crescimento a se desenvolver mais de um lado do que de outro, de forma a fazer a correção. “O aparelho ortopédico é usado em geral à noite, pois nesse período o crescimento é maior. Apenas em casos mais graves o aparelho é usado o dia inteiro”, avalia o especialista. Em casos ainda mais raros o paciente evolui com desvios angulares, ou seja, geno valgo ou geno varo tão grave que necessita de cirurgia.

— É muito raro indicar cirurgia para isso, mas o procedimento é simples. A epifisiodese temporária pode ser feita com grampo ou parafuso, que é colocado em um dos lados da placa de crescimento no osso do joelho. A placa de crescimento vai de um lado a outro. Retendo o crescimento de um lado, ela vai crescer mais para o outro e assim corrigir. Ao final o grampo ou parafuso é retirado — esclarece Fontenelle.

A deformidade não costuma causar dor, pelo menos durante a infância, mas na fase adulta o desvio angular exagerado, tanto o valgo quanto o varo, pode levar a um desgaste da articulação no lado da concavidade. No caso do geno varo o processo degenerativo se dá no compartimento medial do joelho; no geno valgo no compartimento lateral. A sobrecarga desses compartimentos leva ao desgaste da cartilagem articular. Assim pode haver dor. “Se o portador for um atleta de alto nível cuja atividade cause muito impacto nas articulações, ele pode desenvolver uma artrose precoce, aos 20 ou 30 anos de idade”, alerta César.

Na idade adulta é feita a osteotomia corretiva, que no caso do geno varo é na tíbia e no geno valgo, no fêmur. Se for unilateral (pois não ocorre necessariamente nas duas pernas), a deformidade pode causar impacto na coluna, no quadril ou no tornozelo devido à sobrecarga de maneira errada em determinadas articulações.

Sabe-se que algumas doenças como raquitismo e a doença de Blount podem provocar, por exemplo, o geno varo. O médico aponta ainda a existência de fator hereditário (não por análises genéticas, mas por observação dos casos), porém as causas dos desvios ainda não são totalmente conhecidas.