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Memória

Direitos humanos e fotografia

Professor da ECO é o curador de exposição na Caixa Cultural.

 Índios Korotire do Pará, camponeses em Conceição do Araguaia, palafitas na favela da Maré, trabalho escravo em fazenda do Mato Grosso do Sul. Essas são algumas das realidades retratadas pelo fotógrafo João Roberto Ripper que podem ser conferidas na exposição Imagens Humanas, em cartaz até o dia 12 de julho, na Caixa Cultural.

Além de imagens que combinam arte e denúncia, a primeira exposição individual de Ripper em 35 anos de carreira foi marcada também pelo debate “Direitos Humanos e Fotografia”, ocorrido na noite da última quarta-feira (24). Mediado por Dante Gastaldoni, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e curador da mostra, o evento contou com a participação de João Roberto, do também fotógrafo Milton Guran e de Raquel Willadino, coordenadora de Direitos Humanos da Escola de Fotógrafos Populares da Maré.

O objetivo principal da palestra foi discutir a obra de Ripper sob a ótica da promoção dos Direitos Humanos e a da inclusão visual. Ao longo de três décadas e meia, o fotodocumentarista retratou os excluídos e marginalizados de forma distinta, buscando contrariar os estigmas propagados pela grande mídia. “Para a imprensa, a favela é um gueto. Na fotografia de Ripper, a opressão aparece com beleza. Costumo dizer que ele é uma espécie de Dom Quixote às avessas: em vez de confundir moinhos de vento com gigantes e dragões, Ripper transforma dragões em moinhos de vento”, pontua Dante Gastaldoni.

Ao relembrar a carreira, Ripper destacou que tentou unir arte com militância política. Para ele, crítico contumaz do conceito de imparcialidade jornalística, a fotografia tem o dever de dar voz àqueles que estão sendo fotografados: “Como a gente pode falar de favela se a gente não ouve o povo favelado? É grave quando, editorialmente, há a determinação de que sejam esquecidas a beleza, a alegria e a vida da favela. O que a população não conhece não existe. Eu acho fundamental fazer a denúncia, mas é revolucionário buscar a beleza dos espaços segregados”, explica o fotodocumentarista.

Durante o debate, Raquel Willadino salientou o papel da fotografia na busca pela efetivação dos Direitos Humanos. Segundo ela, a documentação permite dar visibilidade às violações desses direitos e possibilita, ainda, combater a criminalização de determinados setores e movimentos sociais. Para a coordenadora, a inclusão visual, ao criar novas imagens de territórios e sujeitos marginalizados, pode vir a ser uma importante fonte de construção de novos direitos.

Por fim, o fotógrafo Milton Guran destacou o surgimento da tecnologia digital como um fator favorável às classes de menor renda. De acordo com Guran, atualmente, grupos sociais menos favorecidos estão conseguindo operar equipamentos a baixo custo. “A fotografia digital incluiu setores que só aparecem na mídia no momento de tragédia. Agora, esses sujeitos podem colocar em circulação a sua própria imagem e, quem sabe, imprimir na sociedade uma nova maneira de ver o mundo.”

A exposição

A exposição Imagens Humanas está em cartaz na Caixa Cultural, localizada na avenida República do Chile, 230, 3º andar, Centro. Está aberta à visitação de terça a sexta, das 10h às 18h, e sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h. A entrada é franca.