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Deficiência auditiva: tratamento deve começar cedo

A deficiência auditiva congênita é um mal que acomete 0,1% das crianças nascidas, ou seja, uma em cada mil. Pode parecer pouco estatisticamente, mas em números absolutos representa muitos casos na população. Por isso é tão importante a realização da triagem auditiva neonatal, que ao identificar precocemente a deficiência no recém-nascido lhe permite uma perspectiva muito melhor para lidar bem com a doença.

De acordo com Marcelo Peixoto, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia Pediátrica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), a doença se dá na própria formação da audição, na parte interna do ouvido. Ela é chamada deficiência auditiva neurossensorial. A causa pode ser genética ou derivar de alguma infecção durante a gravidez. Trata-se de um problema na parte interna do ouvido na qual o ouvido capta, mas não gera o som. Provoca a perda grave de audição, suficiente para que a criança não aprenda linguagem, tenha dificuldades na escola e precise de aparelho auditivo.

– Algumas condições de risco aumentam a frequência de 0,1 para 5% (uma criança em 20), que é muito alta – aponta o pediatra. Alguns fatores são: uso de antibióticos no recém-nascido, transfusão de sangue e colocação de respirador no prematuro. “São fatores presentes na criança em estado grave, que nasce prematura e vai para uma UTI pediátrica. As crianças atendidas na Maternidade-Escola da UFRJ e no IPPMG geralmente têm um fator de risco presente, então há percentual de perda de audição maior. Por isso que é mais importante ainda nesses hospitais a realização do teste da orelhinha”, alerta Marcelo Peixoto, também professor associado do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Triagem Auditiva Neonatal

Existem várias formas de detectar a deficiência, de acordo com os recursos disponíveis. O ideal é ter um aparelho chamado “alta emissão”, que ao ser colocado no ouvido da criança detecta se existe reflexo. O exame é popularmente conhecido por teste da orelhinha e pode ser feito logo que a criança nasce, nos primeiros trinta dias. Se o resultado for positivo, significa que a criança escuta; se o resultado for negativo, quer dizer que a criança pode não escutar. Ela deve então ser encaminhada para outros exames mais específicos a fim de verificar se realmente tem problemas auditivos.

O aparelho usado no teste é caro e pode não estar disponível em todos os lugares, mas, segundo Marcelo, isso não significa que não se possa testar a criança. “Você pode pegar um diapasão e gerar um som ao lado da criança, ou mesmo bater palma do lado dela para verificar se ela tem reflexo. A resposta não é tão precisa quanto o teste da orelhinha, mas o importante é fazer um teste para averiguar se existe alguma dúvida quanto à audição do bebê. Caso haja, deve-se procurar ajuda especializada”, explica o otorrinolaringologista.

Após o diagnóstico, o tratamento é a utilização de aparelho auditivo, acompanhado de fonoaudiologia educacional (para que a criança aprenda a falar) e escola especial, importante no desenvolvimento da linguagem. “O aparelho eleva a audição para quase normal; ele amplifica o som conforme for de 40 a 50 decibéis. Então você consegue deixar a criança com audição quase normal”, diz Marcelo.

O aparelho não altera a evolução da perda auditiva (quando há evolução gradativa), mas sim o que essa perda representa para o atraso do desenvolvimento da criança. Por isso o tratamento deve começar logo no primeiro ano de vida. “Quanto mais precoce for a estimulação, mais você consegue ainda atuar na plasticidade da formação da via auditiva. É como se estimulasse o próprio desenvolvimento da via ao oferecer o som mais precocemente. Há um aumento da qualidade do tratamento”, afirma Peixoto.

Existe outro tipo de perda de audição, que é ainda mais comum (cinquenta vezes mais frequente): a perda de audição que acontece por alteração da condução do som, da parte externa e média do ouvido. Ela se dá devido à otite, infecção do ouvido, e é bastante comum, com incidência de 5 a 10%.

– Quando a criança tem otite, a fisiologia do ouvido para de funcionar e depois de um tempo a criança fica boa, mas nem sempre é assim. Se a criança não respira bem pelo nariz, essa comunicação fica prejudicada (devido à tuba auditiva, que é um canalzinho que liga o nariz ao ouvido). Quando ocorrem muitas otites, esse canalzinho permanece entupido, não drena a secreção que se forma e que então se acumula dentro do ouvido, diminuindo a audição – diz o especialista.

Segundo ele, essa perda não é tão grande, mas já é suficiente para que a criança tenha dificuldade na escola. Por isso toda criança antes de entrar em idade escolar deve fazer um teste de audição. “Naquelas que nascem com perda de audição, a deficiência é irreversível, pode se manter ou piorar com o tempo. A perda condutiva é reversível. Então também é muito importante ser detectada cedo”, conclui Marcelo.