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Concentração de riquezas agrava desigualdades sociais

 As críticas ao modelo econômico adotado pelos sucessivos governos nos últimos 20 anos para redução das desigualdades sociais no país marcaram o tom do debate promovido na última sexta-feira, dia 22, pelo Conselho Regional de Serviço Social (CRSS/RJ), no campus da Praia Vermelha. O evento “Socializar riqueza para romper desigualdades” lotou o auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Participaram do encontro os professores Mauro Iasi, da Escola de Serviço Social (ESS/UFRJ), e Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia (IE/UFRJ).

Dados apresentados por Mauro Iasi mostram que, apesar do aumento da renda entre os 20% mais pobres nos últimos anos, houve paralelamente um aumento muito mais significativo na concentração de riquezas na faixa dos 10% mais ricos da população brasileira. No início da década de 90, estes concentravam 53% das riquezas nacionais. Atualmente, aponta Mauro Iasi, a camada com maior poder aquisitivo detém 74% das riquezas, o que demonstra, segundo ele, uma desproporção em comparação ao aumento de renda entre os mais pobres.

Na sua avaliação, uma das causas para o problema da concentração de renda no país, que contribui para as desigualdades sociais, é o modelo adotado por sucessivos planos baseados no crescimento da economia. “Essa premissa não é nova. Os governos acreditaram que os problemas se resolveriam com o desenvolvimento do capitalismo. Dotando o capital de condições para crescer, teríamos a redução da desigualdade e de todas as mazelas dela decorrentes, como a pobreza e o analfabetismo. Mas não foi o que aconteceu”, analisa o professor da ESS/UFRJ.

Os lucros das 500 maiores empresas do país, segundo ele, registraram aumento de R$ 2,3 bilhões para R$ 43 bilhões em menos de uma década. Os maiores beneficiados, complementa Iasi, foram os bancos, a Petrobras, as mineradoras e os setores de eletricidade, siderurgia e telecomunicações e metalurgia, dos quais muitas empresas foram recentemente privatizadas. “A diminuição das desigualdades se dá com a socialização das riquezas, e não com crescimento econômico”, conclui Mauro Iasi.

Modelo liberal

Com uma visão igualmente crítica da política econômica mantida pelo Estado brasileiro desde 1990, o professor do IE/UFRJ Reinaldo Gonçalves afirma que o desempenho econômico vem se tornando cada vez mais frágil e com menos capacidade de resistência diante das crises internacionais. O economista critica a opção do governo pelas políticas sociais de natureza compensatória – como o programa Bolsa-Família – em detrimento de uma reforma estruturante visando reduzir a concentração de riquezas. “Nos últimos dez anos, houve menos concentração de renda, porém maior concentração de riquezas. E essa é a distribuição mais importante. Os ricos estão mais ricos”, afirma.

Ele atribui o “desempenho econômico medíocre do país” ao modelo liberal periférico, baseado nas privatizações, flexibilização das leis trabalhistas e dominação do capital financeiro. O economista critica ainda a regressividade do sistema tributário. “Uma das formas de reduzir a concentração de riquezas é a estrutura tributária”, destaca Gonçalves.