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Vulnerabilidade, Resiliência e a Clínica

O Centro de Estudos de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) realizou dia 20 de maio uma palestra sobre vulnerabilidade e resiliência na prática médica. Ela foi ministrada pelo professor José Henrique Cunha Figueiredo, do Serviço de Psiquiatria e Psicologia.

De acordo com José Henrique, a noção de resiliência advém da Física e da Engenharia, serve para caracterizar a energia de deformação. O conceito foi adaptado pelas ciências sociais e se aplica àquelas pessoas que mesmo tendo nascido e crescido em situações adversas se desenvolveram psicologicamente saudáveis.

— Nos anos 70 o conceito de resiliência foi usado pela Psicologia e pela Medicina por conta dos conceitos psicopatológicos. Foram observadas populações de menores que se desenvolviam em habitações com pais alcoólicos ou esquizofrênicos, em situações de extrema pobreza e adversidade. Mesmo assim eles não desenvolviam doenças ou distúrbios de comportamento — relata o professor.

Esse fato chamou atenção e começou a ser estudado. As premissas no enfoque da resiliência foram o nascer na pobreza e o viver em condições psicologicamente adversas. O especialista diz que a capacidade de recuperação e avanço após uma enfermidade, um trauma ou estresse é algo que em grande medida é adquirido e varia de acordo com o desenvolvimento de resistência da pessoa.

Segundo José Henrique, alguns pesquisadores brasileiros afirmam que todos os indivíduos possuem uma resiliência, porém alguns mais e outros menos. “A vulnerabilidade é uma predisposição individual para desenvolver variadas formas de psicopatologia”, relata Figueiredo. Ele aponta como fatores de risco a pobreza, as rupturas familiares, a violência e as doenças que acometem o indivíduo ou sua família. Entre as influências que estimulam a resposta da pessoa contra os fatores de risco estão a autoestima, a estabilidade, os bons relacionamentos e o autocontrole.

— Quanto maior a quantidade de desvantagens e estresse, mais fatores de proteção são necessários para contrabalançar os aspectos negativos e aumentar os resultados positivos. A questão do apoio social parece ser um fator de resiliência excepcionalmente importante para o estresse. Também estão sendo desenvolvidos estudos para se compreender o que há de neurobiológico favorecendo esses elementos — diz José Henrique.

De acordo com ele experiências com macacos demonstraram que o isolamento social aumenta a frequência cardíaca, assim como a pressão arterial. Para melhorar a resiliência na prática clínica seria preciso estudar e descobrir as razões pelas quais alguns indivíduos não são afetados além do sofrimento físico pela doença grave para assim compreender a origem das diferenças entre pacientes que sofrem do mesmo mal com gravidade idêntica. José Henrique conclui exaltando a importância da formação de profissionais sensíveis, empáticos e voltados para o conhecimento integral dos pacientes.