No último domingo (19), o Jornal do Brasil publicou um artigo escrito por Aloísio Teixeira, no qual o reitor comenta o Vestibular como mecanismo de acesso às universidades e fala sobre as mudanças que, recentemente, foram propostas pelo Ministro Fernando Haddad.

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Reitor fala sobre Vestibular em jornal do Rio

No último domingo (19), o Jornal do Brasil publicou um artigo escrito por Aloísio Teixeira, no qual o reitor comenta o Vestibular como mecanismo de acesso às universidades e fala sobre as mudanças que, recentemente, foram propostas pelo Ministro Fernando Haddad.

No último domingo (19), o Jornal do Brasil publicou um artigo escrito por Aloísio Teixeira, no qual o reitor comenta o Vestibular como mecanismo de acesso às universidades e fala sobre as mudanças que, recentemente, foram propostas pelo Ministro Fernando Haddad.

No artigo, Aloísio Teixeira destaca a importância de o Brasil, país em que apenas 13% dos jovens entre 18 e 24 anos cursam o Ensino Superior, discutir o Vestibular. Para o professor, o concurso de acesso aos cursos de Graduação das universidades, tal como ele é realizado hoje, é um "mecanismo perverso de exclusão e de promoção de desigualdade" que urge ser revisto.

Confira abaixo a íntegra do artigo:

Acertou em cheio o Ministro Fernando Haddad ao colocar no centro do debate a questão do vestibular.

Entendamos o ponto. Todos conhecemos as tristes estatísticas que colocam a educação superior brasileira em uma das piores colocações no ranking mundial: apenas 13% dos jovens entre 18 e 24 anos estão matriculados em instituições de ensino superior (dos quais cerca de 20% „Ÿ ou seja, menos de 3% dos jovens nessa idade „Ÿ em universidades públicas, que são as que, em geral, preenchem os requisitos mínimos de qualidade, fundado em práticas indissociáveis de ensino, pesquisa e extensão).

Em contraste com essa dura realidade, nos países desenvolvidos (principalmente, mas não só) a educação superior vem experimentando uma expansão sem precedentes: na América do Norte, na Europa e na Ásia, vários países já alcançaram percentuais que superam os 70 por cento. Mesmo na América do Sul, a média da região é superior a 30% „Ÿ mais do que o dobro do Brasil.

Esse quadro não ocorre, em nosso país, por acaso. Ele é a contrapartida, no plano da educação superior, da desigualdade e da exclusão que são mácula indelével em nossa sociedade. E sua consequência direta é que a universidade torna-se „Ÿ ela mesma „Ÿ um instrumento de reprodução das desigualdades e da exclusão (quaisquer que sejam a origem social e/ou regional dos estudantes que a frequentam). E, o que é pior: sua permanência condena o país „Ÿ em um mundo em que a velocidade do progresso científico e tecnológico acelera-se „Ÿ a um futuro medíocre.

Muitos ainda acreditam que o “vestibular”, tal como praticado entre nós, é um “mal necessário”. Mas ele é muito mais do que isso; ele é parte do mecanismo perverso de exclusão e de promoção da desigualdade, ao incentivar o desenvolvimento de uma “indústria do vestibular” em cujo centro estão os famosos “cursinhos pré-vestibulares” e da qual não são imunes as próprias universidades. E como tal deve ser enfrentado e superado.

Já há uma relativa consciência da necessidade desse enfrentamento. Tanto que muitas instituições vêm construindo mecanismos alternativos e complementares: quotas raciais, sociais ou para a escola pública, utilização total ou parcial do próprio ENEM, sistemas de bônus em pontuação, avaliações paralelas na rede do ensino médio e tantas outras são alguns exemplos „Ÿ uns mais eficazes, outros menos.

A idéia lançada pelo MEC „Ÿ de um Exame Nacional do Ensino Médio, não apenas como instrumento de avaliação, mas como subsídio para o acesso às universidades federais „Ÿ pode ser o ponto de partida para a revogação desse mecanismo perverso, para a democratização do acesso e para a consolidação do caráter público dessas instituições.

Trata-se „Ÿ e é importante destacar esse aspecto „Ÿ de uma proposta em construção, que deve ser testada desde já, mas que pode ser aperfeiçoada com a experiência adquirida em sua implementação. Um ponto pode ser indicado desde já: estender a prova a todos os anos do ensino médio, de modo a que se possa utilizar não apenas o resultado de uma única bateria de exames, mas a média de três anos. Do ponto de vista didático-pedagógico, isso eliminaria as restrições que todos fazemos a um processo de avaliação de mérito em uma única rodada de provas, além de potencializar o impacto nos curricula do ensino médio; e, do ponto de vista social seria um golpe de morte na chamada “indústria do vestibular”.

Cabe ao MEC, nesse momento, promover, sem mais delongas, a mudança no ENEM, acrescentando à avaliação de habilidades e competências (domínio da língua culta, uso de linguagens variadas, capacidade de resolver situações-problema etc.) a avaliação dos conteúdos curriculares relativos às áreas básicas do conhecimento (língua portuguesa, matemática, ciências naturais e ciências sociais) e aplicá-lo à totalidade dos jovens que completam o ensino médio, onde quer que se encontrem, divulgando os resultados em prazos que as instituições de ensino superior possam utilizá-los.

Cabe às universidades federais, no âmbito da autonomia que lhes garante a Constituição, decidir se, como e quando adotarão esse subsídio.

Por certo, problemas haverá, desde a segurança em uma operação desse porte até a garantia do direito de acesso e à preservação dos avanços alcançados na distribuição regional da população universitária. Mas devemos enfrentá-los com a coragem e a determinação dos que sabem que poderão ser resolvidos. E não usá-los como pretexto para que tudo permaneça como está.

Aloísio Teixeira.